sábado, 1 de janeiro de 2011

Informativo.

Olá, pessoal, espero que estejam gostando do desfecho dessa história.

Para todos que gostaram desses caps e querem ler mais, peço a gentileza de que enviem um e-mail para talitha.nascimento@hotmail.com para que eu envie mais caps.

Estou verificando a possibilidade de disponibilizar a venda do livro pela internet, assim que tiver novidades informo.

Bjs com carinho.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Capitulo 6 – Adeus.

- Vamos embora daqui. Aproximei – me e a segurei pelo braço.

- Não! Com indignação Hanna protestou. – O que foi desta vez?

- Hanna, agora. Minha voz estava determinada e irritadíssima.

- Isso não é justo, eu não fiz nada. Sua face estampava todo seu espanto.

- Não vou falar outra vez Hanna. Puxei – a pelo braço e segui em direção a porta de entrada da casa.

Hanna me seguiu sem entender a razão de minha irritação, porem sabia que o momento não lhe permitiria outra opção, ela estava sob meus cuidados, protestar não mudaria minha decisão.

Seguimos a passos largos para o jardim da casa. O curto percurso não foi suficiente para amenizar minha impaciência. Do meu lado, Hanna respirou fundo para controlar – se enquanto meus movimentos pareciam irritar – la ainda mais. Em pouquíssimos minutos cruzamos o portão e seguimos para o velho Jeep.

Mesmo tomado pela chama que percorria meu corpo, aproximei – me do veiculo e adiantei – me para abrir a porta do passageiro para Hanna.

- Obrigada pelo cavalheirismo. Hanna estava incrédula com meu ato, perante tamanha irritação.

Sem dizer uma só palavra, fechei a porta do passageiro sem desviar o olhar de meu ponto imaginário. Entrei no Jeep e permaneci estático com as mão no volante. Lutava contra aquele sentimento, mas parecia impossível combater a emoção que me consumia por dentro, aquele não era o Christian que eu conhecia.

- Tá tudo bem, agora chega! Com imensa determinação Hanna assumiu o controle da situação.
- Christian, eu falei chega, você está me escutando? Vendo que suas palavras não haviam surtido efeito, Hanna sacudiu meus ombros para que eu acordasse do transe.

Lentamente acordei do transe com suas últimas palavras ressoando em minha mente. Olhei para Hanna, por mais que relutasse, não conseguia conter as sensações dentro de meu peito.

- Ah não... O que foi Christian? Hanna custava a crer no que via, em toda sua vida, nunca me vira em tal situação.

- Sinto muito, mas não posso explicar o que não consigo entender. Instintivamente tirei meu amuleto da camisa e segurei - o com força, contra meus dedos.

***

O abraço estendeu – se por longos minutos, todos meus sonhos pareciam estar prestes a realizar – se. Daniel desejava que aquele momento perdurasse por mais tempo, enquanto minha mente projetava o inicio do nosso sucesso.

- Hey guys, me digam que a Nanda tá louca. Incrédulo Philip aproximou – se empolgado.

- Inacreditável, não é mesmo? Respondendo com leve irritação, Daniel relaxou os braços do meu entorno.

“Obrigada Phil, já estava com falta de ar” Libertei – me do abraço enchi os pulmões e respirei fundo.

- It’s amazing! Philip não parava de exclamar suas expressões radiantes.

O rastro de uma doce fragrância alcançou meu olfato, rapidamente minha mente reconheceu o aroma do príncipe de meus sonhos. Sem hesitar, virei a cabeça na direção da fragrância e visualizei um vulto saindo da pista de dança.

- Gente eu já volto, preciso ir ao banheiro. Com um leve desespero, lutei para vencer a aglomeração das pessoas, após empurrões e tropeços saí do ambiente.
Já no jardim, olhei ao meu entorno e visualizei algumas poucas pessoas conversando descontraídas, certamente nenhuma delas seria o vulto que como um raio acabara de passar pelo jardim. Entretanto, a doce fragrância pairava pelo ar. Desolada, apenas fechei os olhos e recordei a imagem escultural.

- Laura, Você está bem? Abri os olhos me deparando com Vini a minha frente.

- Ah está tudo bem Vini. Desde o inicio da festa, não tínhamos nos falados, certamente Vini esteve me procurando para conversamos, mas a aproximação das pessoas, não lhe permitiu fazer isso antes, somente agora, conseguimos nos encontrar.

- Você parece assustada, esta tudo bem mesmo? Vini ficou preocupado com meu sobressalto ao vê - lo.

- Assustada? Perguntei atônica. É que... tudo isso... acontecendo... foi muito bom, eu adorei. Respondendo a minha própria pergunta, sorri lembrando cada momento.

- Ah Laurinha, você estava maravilhosa, parabéns, tenho muito orgulho de você maninha. Nos envolvemos em um abraço longo e caloroso.

- Ali estão eles. Por cima dos ombros de Vini, visualizei Daniel com o dedo indicador, apontado em nossa direção.

- Laura, você quer me matar do coração? Nanda estava agitadíssima. Você sumiu, onde você estava?

- Será que eu posso falar com meu irmão pelo menos por alguns minutos? Revirei os olhos com perplexidade.

- Pronto agora você já falou com ele. Nanda agarrou meu braço, começando a me puxar.

- Tá, mas posso saber pra onde você está me puxando? Meu rosto passou de perplexo para assustado, não entendia sua afobação.

- O produtor quer nos conhecer pessoalmente e já perdemos muito tempo te procurando! Para Nanda, isto era a coisa mais óbvia que eu deveria pensar.
- Então era isso mesmo? Estava estarrecida com a confirmação de nossas expectativas anteriores.

- Gente, o produtor quer conhecer a gente! Nanda estava alucinada e irritada com os segundos que passavam na conversação. – Vamos logo, cada minuto é precioso, ele não tem a noite inteira.

- Vini eu já volto. Já alguns passos de distância, olhei para trás, dirigindo – me ao meu irmão, enquanto Nanda arrastava meu braço apressadamente.

- Isso que dá ter uma irmã celebridade. Quase gritando para que eu o ouvisse, Vini exclamou com alegria. – Ah e boa sorte.

Mais uma vez, não foi fácil passar pela multidão, o escritório estava localizado em outra parte da casa, sendo que para chegar lá, passamos novamente espremidos por entre as aglomerações. Entramos no escritório parecendo que tínhamos percorrido uma maratona, sentado em um poltrona, um homem de meia idade, estatura média, cabelos escuros e olhos instigantes, já nos aguardava.

- Então vocês são a Scarlet? Muito prazer em conhecer. A propósito, Scarlet é um ótimo nome para uma banda. Enquanto falava, seus olhos nos avaliavam incessantemente. - Ah, deixe – me apresentar, sou Marcelo Aguiar, produtor musical da “New generation”.

- Assisti o show e pude perceber a qualidade musical da banda, certamente com alguns ajustes, em pouco tempo a banda estará pronta para as paradas de sucessos. A poltrona girava de um lado para outro, com o movimento de seu corpo. Suas últimas palavras soaram como sinos em nossos ouvidos, não tínhamos idéia do potencial que possuíamos.

- Você Daniel! Sabe cativar o publico e tem ótima presença de palco, você Philip, possui técnica e segurança, você Nanda, presença marcante e atitude inconfundível, mesmo atrás da bateria, e você Laura, afinação e delicadeza extraordinárias. Fiquei pasma com a avaliação.

- Vocês possuem características fundamentais para uma banda, mais o que no Show Business chamamos de “rostinhos perfeitos”. Certamente isso fará toda diferença no marketing e propulsão da banda.

“Isso é ridículo” “Quero ser reconhecida pelo meu talento e não por minha beleza”. Estava indignada com o que acabara de ouvir, não podia acreditar naquele discurso hipócrita. As frases de protesto formadas em minha garganta, estavam prestes a serem declaras, quando achei melhor ponderar, por respeito ao pai de Nanda, nosso grande incentivador.

- Enfim, hoje foi apenas uma visita rápida, minha agenda está lotada para as próximas semanas, mas assim que surgir um espaço, entrarei em contato com o Sr. Fred Schmidt, para definirmos um possível contrato.

Após a saída do produtor, seguimos para a grande sala principal, no relógio os ponteiros indicavam poucos minutos para meia – noite, a valsa estava prestes a começar. Na sala todos aguardavam pelo grande momento. Juntamos - nos aos demais convidados, enquanto o pai da debutante seguiu para o centro do circulo.

- Senhoras e senhores, é com imensa felicidade que convido todos a participarem do baile de minha filha Flávia Schmidt. O homem alto e robusto estava firme em sua posição, enquanto suas palavras saiam carregadas de orgulho e alegria.

Todos os olhares voltaram – se para o topo da escadaria, onde Flávia surgia com outro lindo vestido rosa, este por sua vez, longo e grapeado. Delicadamente Flávia desceu a escadaria enquanto a valsa começava a soar no ambiente. No pé da escada, seu pai a segurou pela mão e os dois iniciaram a dança. Por alguns minutos pai e filha dançaram sozinhos pela sala, gradativamente casais entravam na valsa.

- Me concede o prazer desta dança, senhorita? Um pedido formal me foi direcionado, Daniel segurou minha mão e reclinou – se levemente, com postura digna de um cavalheiro.

- E por que não, meu caro cavalheiro? Com o mesmo tom majestoso, concedi o desejo do nobre cavalheiro.

Ao nosso lado, Philip repetiu o gesto, direcionando – se a Nanda, que também aceitou o convite do amigo.
A valsa prosseguiu até que a sala ficasse tomada de casais que se moviam lentamente de um lado para outro, com postura adequada para a dança.

Deixei – me levar de um lado para outro, no compasso das notas musicais. Sentia – me confortável nos braços de meu par, ele não era o “mocinho” dos meus sonhos, mas era afetuoso o bastante para eu curtir o momento.

Lentamente a valsa foi acabando e os casais se dispersando. Daniel não sentia necessidade, muito menos vontade de desfazer o par, se cada momento comigo era especial, aqueles minutos certamente seriam preciosos.

Inevitavelmente a valsa ia acabando, as últimas notas da valsa soaram, abri meus olhos, deparando – me com seu rosto perfeito. Os olhos azuis piscaram diante dos meus, sua face mudou de delírio para angustia, mas em poucos segundos se recompôs em um meio sorriso.

- Você está com uma expressão exausta. Ele afagou meu rosto com a mão livre, sem soltar a outra de minha cintura.

- É realmente estou. Pousei a costas de minha mão em minha testa e inclinei levemente a cabeça para trás em um frenesi. – Esta vida de “Pop Star” é extremamente desgastante.

- Deus, daí humildade para esta pessoa, pois ela não sabe o que diz. Daniel olhou para o lustre como se a luz fosse o próprio Deus.

- Também estou exausta. Cadê a água de coco e os “m&ms” vermelhos? Nanda cruzou os braços e retraiu os lábios ironizando.

- Oh, my gosh, nobody deserves! A exclamação de Philip quebrou nosso teatro e caímos na gargalhada.

Estávamos sozinhos na sala, todos os demais estavam na sala ao lado, onde os parabéns pra você era nitidamente audível. Seguimos para aglomeração que se formava próximo a mesa do bolo, aproveitando os últimos momentos da festa.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Capitulo 5 – Desencontro.

Do lado de fora da casa, pessoas aglomeravam – se na varanda diante do palco, aguardando pelo inicio do show. As borboletas em meu estomago lutavam por espaço, minhas pernas tremiam e minhas mãos suavam. Enquanto caminhava para o palco, senti a agitação e vibração da platéia. Subi no palco, rezando para que minha voz não falhasse.

- Boa noite, eu sou Laura Boaventura, vocalista, e estes são meus amigos e companheiros de banda, Philip Veras no baixo, Fernanda Schmidt na bateria e Daniel Paes Leme na guitarra, apresento – lhes Scarlet. Apresentei desnecessariamente cada membro, já que éramos conhecidos por todos do colégio terminando a introdução com o nome da banda.

De trás da bateria, Nanda tocou uma baqueta na outra e iniciou a contagem, a primeira nota da bateria soou e multiplicou – se no ambiente, então o show começou para delírio da platéia.

***

Garçons passavam de um lado para outro, servindo refrigerantes, energéticos e sucos à vontade. O ambiente estava apinhado de convidados, sentia – me sufocado, precisava de um lugar mais arejado, presumi que a parte externa estaria mais tranqüila.

Olhei para os lados e Hanna não estava mais ao alcance de meus olhos, não queria bancar o primo “super – protetor”, mas era responsável por ela, não iria sufoca – la, apenas manter – me próximo e ter os olhos em vigília não faria mal algum. Servi – me de um suco, antes de sair à procura de Hanna.

Segui por entre a movimentação de pessoas, e ao cruzar a porta, captei um leve som decorrente da parte exterior da casa, a harmonia era agradável e a afinação fascinante. Tomado pela melodia segui na direção daquela musica.

Caminhei até um lado da varanda, onde pessoas aglomeradas pulavam e gritavam animadamente. Gradualmente o som tornou – se mais audível, me aproximei ao palco e visualizei a banda geradora da harmonia.

Esta era a “tal” banda da irmã da aniversariante, mas quem seria a irmã de Flavia? Com esta súbita pergunta em mente, olhei cada integrante da banda a fim de identifica – los. O baixo e a guitarra eram ocupadas por dois garotos, a bateria por uma garota que se fazia visível por conta do cabelo vermelho fluorescente, com a face igualmente delicada como a de Flávia, então olhei para a ultima integrante, detentora da voz mais aveludada e afinada que escutara na vida.

Focalizei aquela garota de pele clara e cabelos castanhos, loiro nas pontas, focalizei diretamente aqueles olhos cor de mel e foi então que entrei em estado de choque. Queria me mexer e mais do que isso, precisava me afastar, mas meu corpo não respondia as minhas necessidades, sentia – me petrificado e hipnotizado pela luz intensa daquela garota.

***

Os ensaios foram mais que suficientes, a Scarlet fazia um show digno de profissionais, cada um de nós mostrava suas habilidades em seu instrumento. Além da minha guitarra, também impunha minha voz com afinação.

As pessoas a nossa frente acompanhavam cada musica, achava tudo aquilo maravilhoso, sentia o inicio do sucesso em cada batida, já imaginava a Scarlet fazendo show para uma platéia gigantesca.

Em cima do palco nada distraia minha atenção, sentia cada nota e cantava com total concentração, então uma sensação de êxtase tomou meu corpo, senti - o arrepiar, minhas pernas bambearam, tudo a minha volta pareceu lento demais para a velocidade de minha mente, cada nota soava milésimos de segundos mais lentas que o normal.

Por um momento pensei que estava sendo tomada pela hesitação da platéia, mas não, não era a emoção pela apresentação, mas a mesma sensação daqueles olhos me observando e desta vez senti o olhar de seu possuidor muito próximo.

Abri os olhos e investiguei cada pessoa ao meu redor, o temor subia por minhas pernas involuntariamente. Segurei com força minha guitarra para que ela não pendesse ao chão, captei cada olhar como em uma seqüência de varias fotografias, eis que meus olhos deparam – se com o olhar mais penetrante de toda minha vida.

Ali estava ele, com os cabelos jogados para trás, seu porte físico e estatura impunham sua beleza e força, a doce fragrância era perceptível mesmo a distancia, mas aqueles intensos olhos verdes era tudo de mais profundo que sentira, deixavam – me em transe.

Estava desmoronado, mas não podia, não neste momento tão especial, queria correr, mas me sentia acorrentada à aquilo que sempre sonhei, estar naquele palco era tudo que mais queria.

“Isso é loucura, só pode ser”. Fechei os olhos novamente, “preciso me concentrar, não vou colocar tudo a perder”, neste momento uma força súbita e inexplicável regenerou meu corpo e mente, quando abri meus olhos, ele não estava mais lá.

***

Com dificuldade quebrei o transe e segui pelo caminho de volta, agora diferentemente do momento de hipnose, meus movimentos eram rápidos, meu corpo respondia aos meus comandos com rapidez absurda, meu batimento cardíaco era alucinante e audível em minha jugular e em meus pulsos cerrados.

Sem pensar, percorri os ambientes da festa, em pouco tempo estava no jardim de entrada da casa, ali o ar parecia mais constante dos demais ambientes, ainda ofegante, respirei fundo e pouco a pouco minha respiração, movimentos e músculos tornaram – se mais amenos.

“Hanna, preciso encontra - la” Com os sentimentos recobertos, lembrei o que pretendia fazer antes de cruzar aquela porta e surpreender – me com o acontecimento.

***

Tudo aconteceu rapidamente, rápido o bastante para que ninguém percebesse uma pequena falha se quer, nem mesmo meus amigos de banda foram capazes de perceber algo anormal em meu comportamento.

O show prosseguiu normalmente, mantive o controle da situação graças a meu incrível poder de concentração, poder este que eu desconhecia até então. A Scarlet tocou a ultima musica e dentro de mim, sentia um emaranhado de sentimentos, por um lado o mérito do sucesso, do outro a angustia tomava meu peito.

A platéia vibrou com o encerramento do show, nos despedimos do publico calorosamente e com imensa satisfação saímos do palco.

Em minha mente ficou gravada aquela imagem, simplesmente não conseguia apagar, só pensava naquele príncipe parado a minha frente. A calça jeans básica e a camisa branca, em seu porte físico, eram perfeitas para o deus grego que exalava uma beleza pura e límpida.

Estava mergulhada naquela divindade que a natureza criara, quando a imagem começou a desaparecer gradativamente diante de meus olhos, alguém estava sacudindo meu ombro. Abri os olhos e a minha frente focalizei Daniel.

- Laura o show foi maravilhoso. Daniel me puxou para mais perto e me deixei levar pelo abraço. - Você foi maravilhosa. Daniel sussurrou em meu ouvido enquanto me enlaçava em seus braços.

- Ah foi legal. Ainda estava anestesiada, olhei ao entorno e não me lembrava como chegara até ali.

- Fala sério Laura, você deve estar dormindo. Nanda me lançou um olhar cintilante. – O show foi estupendo.

- Ah você foi d+ Nanda. Desvencilhei – me de Daniel e a abracei carinhosamente.

- Você viu a vibração da galera? Philip estava radiante, seu sorriso expressava toda sua exultação.

- Ah você também foi d+ Phil. Repeti o gesto anterior e abracei Philip.

- De - li - ran - te! Busquei uma palavra que definisse todos meus sentimentos, respirei fundo e pronunciei em tom musical.

- Agora é hora da diversão querida. Mal tinha recuperado o ar dos abraços, quando Daniel pegou minha mão e abriu caminho rumo à pista de dança.

O percurso até a parte interior da casa parecia impossível de ser cruzado, agora, as pessoas que assistiram ao show, nos cercavam gritando enlouquecidas. Daniel era puxado de um lado para outros pelas garotas mais ousadas, seu rosto estampava um sorriso de divertimento enquanto ele dizia: - Calma garotas, eu sou de todas vocês.

Aproveitei – me da popularidade de Daniel, seguindo em seu vácuo, mesmo assim alguns puxões foram inevitáveis, e para meu espanto, o coro de meu nome também não. Logo as nossas costas, Fernando e Philip seguiam com a mesma popularidade.

“Meu Deus, nos somos a Scarlet e não a Paramore”. Pensei em meio às aclamações e puxões.

Com muito custo entramos na pista de dança, logo atrás a aglomeração de pessoas abarrotou o ambiente, pouco a pouco a multidão se dispersou na grande pista de dança.

A musica no ambiente mudou de eletrônico para Flash back, as luzes coloridas giravam na pista, a fumaça intensificou – se pelo salão, a musica encheu o ambiente elevando a agitação das pessoas.

Dançávamos próximos uns ao outros, constantemente pessoas chegavam para dançar conosco, uns desejavam nossa amizade, mas a grande maioria desejava a popularidade que nossa companhia proporcionaria.

- Gente eu já volto. Nanda levantou a voz para se fazer ouvir.

- O quê? Gesticulei informando que não tinha entendido.

- Eu já volto. Desta vez Nanda falou em meu ouvido para que eu escutasse.

- Aonde você vai? Repeti seu gesto e perguntei em seu ouvido.

- Meu pai está me chamando. Ainda em meu ouvido, Nanda completou. – Parece que um produtor está interessado na Scarlet.

- Então ele assistiu o show? Perguntei com vivacidade.

- Eu não sei, não entendi muito bem, preciso ir até lá para ter certeza. Sua agitação era evidente só pela agitação de suas mãos e expressões faciais.

- Tomara que seja isso mesmo. Também estava muito empolga com a novidade.

- Vou lá ver se é isso mesmo! Nanda seguiu em meio a multidão, para certificar – se.

- Daniel, eu não consigo nem imaginar isso que a Nanda falou agora. Estava perplexa.

- Então comece a acreditar, parece que é isso mesmo. Não menos empolgado ele fitou meus olhos e me segurou pelos ombros. Deixei – me levar pela imensa felicidade e cai em seus braços.

***

Averigüei todos os ambientes e não encontrei Hanna em nenhum deles, segui então para última opção, a pista de dança. Entrei no ambiente recebendo os flashes de luzes dançantes, não seria uma tarefa fácil encontrar alguém em meio à coreografia das luzes, diante de meus olhos, as imagens eram constantemente modificadas.

No emaranhados de luzes, pessoas e imagens, tentei reconhecer cada face. “Ela só pode estar aqui, onde mais estaria?”, perguntei - me um tanto quanto irritado com o sumiço de Hanna, além do mais odiava aquele ambiente.

Enquanto caminhava, a música no ambiente mudou, as luzes acompanharam a intensidade das batidas, neste momento captei a imagem de um vestido azul e logo a imagem se apagou. O vestido azul era o de Hanna, ali estava ela, a alguns metros de distancia a frente.

A distancia que nos separava era pequena, mas a resistência das pessoas não. Lenta e custosamente, furei a barreira humana, foi então que meus olhos deparam – se com a imagem mais chocante da noite. Ali estava ela, nos braços do “playboyzinho”.

Desesperadamente segui na direção de Hanna. Minha irritação era tamanha que enquanto passava, deixava para trás cotoveladas e empurrões, sem me importar com os murmúrios de repreensão. Não poderia admitir aquela situação, não olhei novamente, sabia dentro de meu íntimo que não sustentaria novamente aquela imagem.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Capitulo 4 – A Festa.

Rolei de um lado para o outro da cama na tentativa de adormecer novamente, entretanto o sono não retornou, apenas alguns cochilos preenchiam o abismo da madrugada. Custosamente adormeci e acordei quando os primeiros raios de sol invadiam meu quarto, presumi que já poderia levantar.

Espreguicei – me demoradamente absorvida em minha cama, levantei – me preguiçosamente me arrastando até o banheiro e entrei direto com a cabeça debaixo do chuveiro, deixando a água quente relaxar meu corpo.

A temperatura do lado de fora subia gradualmente, certamente seria um dia quente com noite abafada, desci as escadas com o coração batendo acelerado de ansiedade.

- Bom dia mãe!

- Bom dia querida tudo bem? Minha mãe beijou minha bochecha e eu me sentei a sua frente na mesa do café.

- Tudo bem. – Respondi entusiasmada – Só um pouco ansiosa e agitada.

- Calma filha, vai dar tudo certo! Minha mãe falava tranquilamente como se um show fosse um “passeio no parque”.

- Eu sei mãe, mas é inevitável, essa será nossa primeira apresentação ao publico. Relembrei – a de que ainda éramos anônimos no mundo da fama.

- Acordou cedo hoje mãe? Por mais incrível que pareça, minha mãe acordava cedo para ir à academia.

- Claro filha, vou para a academia, depois para o salão fazer a unha e retocar a raiz do meu cabelo, olha como está horrível! A insatisfação de minha mãe era tamanha, parecia que ela não ia ao salão há meses.

- Mãe você retocou a raiz há duas semanas. A diferença entre minha mãe e eu era gritante, ela uma “perua”, eu uma “roqueira patricinha”, se é que isso existe.

- Eu sei querida, mas já está na hora de retocar, meu cabelo cresce como capim e não posso ficar com essa raiz horrorosa. Ela segurou uma mecha de cabelo e fez um careta de desgosto.

O cabelo de Andréia era tingido de “loiro Bambu”, denominação essa tirada de uma dessas revistas “hair style”, que eu não saberia dizer o nome.

- Laura, não é hoje aquela festa da sua amiga? A pergunta saiu carregada de animação. – Vamos para o salão agora, eles são “ma – ra – vi – lho – sos”, você vai arrasar.

- Não mãe obrigada. - Com certeza ela não saberia diferenciar um casamento de um show de rock. – Não sou a debutante, apenas uma convidada.

- De quem é a festa mesmo? Ela nunca lembrava os nomes das pessoas, apenas dos eventos.

- Flávia, irmã da Fernanda lembra? Será que ela lembraria pelo menos de Nanda?

- Hum... Fernanda é aquela sua amiga de cabelo vermelho? A resposta necessitou de alguns minutos de reflexão.

- Isso mesmo, mãe você está impossível hoje, acertou em cheio. Impossível seria não lembrar - se da minha melhor amiga de cabelo vermelho gritante.

- Vocês não se desgrudam, só poderia ser ela. Quanto a isso ela estava certíssima.

- Você precisa de uma “mega” produção para esse show, querida. A empolgação de minha mãe voltara a todo vapor.

- Claro, claro mãe, pode deixar que eu vou arrasar. Queria arrasar sim, mas pelo show e não pelo penteado.
- O papai virá este final de semana? Meu pai era o responsável de um projeto no Rio Grande do Sul, nem todos finais de semana passava conosco, se ele viesse, seria meu expectador de honra.

- Ele ligou ontem, infelizmente não poderá vir esse final de semana, pois está com muito trabalho, vai passar o final de semana no escritório da filial. Minha mãe me olhou abatida, não gostava que meu pai ficasse longe por tanto tempo.

- Ele não vai me ver tocar? Não acredito! Como minha mãe, sentia muita falta de meu pai.

- Eu sei Laura, ele gostaria muito de estar aqui, mas não pode deixar o projeto sem acompanhamento. Ela se aproximou e me abraçou calorosamente, assim como eu, sentia o coração apertado de saudades.

- Tudo bem, eu sei que ele faz tudo isso por nós! Queixar – me não mudaria nada, preferia pensar em tudo que ele fazia buscando o melhor para nossa família.

- Claro filha, você e o Vini, são tudo na vida dele. Nos olhamos afetuosamente, éramos diferentes em muitas coisas, mas o amor de nossa família era nosso ponto primordial.

- O Vini virá? Tinha certeza da resposta, mas a pontada de saudade exigia uma confirmação.

- Vai sim, ele chega antes do almoço, como de costume. Me senti mais reconfortada com a afirmação.

- Laurinha querida, agora tenho que ir, já estou atrasada para a aula de spinning. Andréia pegou a chave do carro e seguiu apresada para a garagem.

***

Estava sozinha em meu quarto, gostava da privacidade que sentia, ali poderia viajar em meus pensamentos, nas muitas coisas que ocupavam minha mente, escola, ensaios, show e aquela sensação inexplicável começava a tomar minha mente por completo quando a buzina soou.

A chegada de Vinícius dispersou meus pensamentos, mesmo estando há uma semana sem o ver, a saudade era grande, queria aproveitar ao máximo nosso tempo juntos.

Desci as escadas correndo e abri a porta da sala. Abracei Vini apertadamente enquanto ele retribuía o abraço e me levantava do chão.

- Já estava com saudades. Consegui falar quando ele me recolocou no chão.

- Eu também maninha. Sorrisos de felicidade estampavam nossas faces. – Cadê a mamãe?

- Adivinha? Desafiei – o como se fosso uma gestão difícil de descobrir.

- Hum... Na academia ou no salão. Ele Fingiu pensar profundamente antes de responder.

- Acertou. Gargalhei livremente.

Jogamos vídeo game, assistimos filme, almoçamos e tornamos a jogar vídeo game. O tempo passou absolutamente rápido, o que não foi nada ruim, primeiro porque estava com Vini, segundo porque minha ansiedade deu trégua enquanto me divertia com meu irmão. Olhei no relógio e percebi que ele passava precisamente contrario ao meu desejo, já estava na hora de me arrumar. A calça jeans preta, a camiseta roxa e o tênis preto já estavam separados em meu closet.

***

- Laura? Você está pronta? Amarrava o tênis quando eles chegaram.

- Já estou descendo. Firmei o nó do cadarço e desci.

Daniel estava no pé da escada me aguardando, Nanda estava em um canto do sofá, enquanto Vini estava na sala de estar com os livros esparramados sob a mesa, aproveitava o tempo livre para estudar.

- Oi Dan, oi Nanda, o Phil já chegou? Perguntei por ele, notando sua ausência na sala.

- Já, ele está na garagem nos aguardando para carregar os equipamentos. Foi Nanda quem respondeu com ansiedade.

- Vini, nos encontramos mais tarde na casa da Nanda, ok? Dei um beijo em meu irmão apontando para Nanda.

- Combinado. Vini me abraçou e retribuiu o beijo.

- Então vamos. Seguimos em direção a garagem com disposição para carregar os equipamentos para os veículos.

Nem mesmo dirigindo, Daniel deixava de exalar sua beleza, a calça jeans e camiseta preta, ressaltavam seu porte físico, o topete impecável completava sua imagem. Ali eu estava mais uma vez ao lado de meu admirador.

Encostei a cabeça no apoio do banco com tranqüilidade, ali ela permaneceu até a parada total do automóvel. O esportivo preto parou em frente à casa de Nanda, Philip parou logo na seqüência, os instrumentos foram levados para a varanda dos fundos, onde o espaço para o show já estava reservado.

Para todos os lados da casa, havia detalhes champanhe e rosa, as cores escolhidas por Flávia para a decoração. Em um dos lados da sala de entrada, um enorme arranjo de tulipas rosa abria a decoração dos ambientes, no outro lado, um painel em forma e tamanho natural de Flávia. Em outro canto da sala, a mesa com dois arranjos de tulipas brancas enriqueciam o bolo rosa decorado com um Flávia Schmidt no topo.

A sala ao lado estava reservada para o DJ, as paredes cobertas por tecidos pretos, os globos e luzes coloridas, e o espaço amplo faziam do ambiente uma perfeita pista de dança.

- Um, dois, testando. Testei o microfone e o som. – Estava tudo certo, pronto para o show. Sentia meu estomago remexer agitado.

- Preparada? Daniel desviou o olhar de sua guitarra. – Com frio na barriga?

- Claro, como não sentir? Era impossível não sentir como se borboletas invadissem meu estomago, mas isso fazia parte do show.

Os convidados começavam a chegar, Flávia desceu pelas escadas enfeitadas com arranjos de tulipas intercalados entre branco e rosa, seu vestido rosa tomara que caia, refletia em sua pele clara e realçava suas maças do rosto e seus olhos verdes, seu cabelo castanho arrumado em um coque desconectado, meio solto, meio preso completa a produção.

***

A noite caia densa no grande vale da cidade de Monte Castelo e o motor do velho Jeep rangeu na propriedade dos Gaillart.

- Hanna, vai demorar muito? Com impaciência chamei por minha prima de dentro do Jeep. - Desse jeito vamos chegar na hora de voltar.

- Já estou indo. Hanna saiu de dentro da casa arrumando o vestido, entrou no automóvel e terminou de abotoar a sandália. – Tá nervoso?

- Nervoso não, mas com pressa. Coloquei o cinto de segurança enquanto saia da propriedade e entrava na estrada. O quanto antes chegássemos, mais rápido voltaríamos.

- Auto lá priminho. Com determinação Hanna me fitou. – Eu só saio de lá depois dos parabéns.

- Ah então você volta sozinha! Olhei para ela impaciente.

- Sem problemas, não tenho medo do escuro. Hanna ria por dentro de minha exaltação, nada abalaria suas expectativas para a festa.

O caminho para a cidade demorou mais que o habitual, dirigir por aquela estrada durante a noite, demandou mais tempo e atenção do que o habitual.

Olhei para frente da estrada e vi as luzes da cidade aproximando - se, mais alguns minutos e estaríamos na selva de pedra.

- Onde eu entro agora Hanna? Não sabia ao certo em qual rua entrar.

- Na próxima à esquerda, n º 52. A distância diminui e a expectativa de Hanna aumentou.

A rua estava entupida de carros dos dois lados, com muito custo encontrei um lugar próximo à esquina e estacionei o Velho Jeep entre dois carros importados.

Entramos na imponente casa branca, a iluminação era atenua, no jardim um caminho formado por arranjos de tulipas levava até a entrada da casa. Hanna caminhou a minha frente e me puxou pelo caminho.

- Flávia? Ao entrar na sala, Hanna encontrou e chamou pela aniversariante.

- Hanna! Ai que bom que você veio. Flávia seguiu em nossa direção e as duas se abraçaram longa e apertadamente - Você está Linda.

- Olha quem fala você está maravilhosa! Hanna apontou para Flávia. – A debutante aqui é você.

- E quem é o seu acompanhante? Flávia falou baixinho para que eu não escutasse, não queria soar indelicada.

- Ah esse é meu primo Christian. Hanna nos apresentou um ao outro.

- Muito prazer Christian. Flávia me cumprimentou delicadamente.

- O prazer é todo meu, muito obrigada por convidar a Hanna. Agradeci com gratidão e sinceridade.

- Imaginem, vocês são meus convidados especiais. Flávia fez questão de enfatizar a palavra vocês. Tinha um carinho enorme por Hanna e sendo eu seu primo, esse carinho também se estenderia a mim.

- Obrigado mais uma vez, a propósito você é muito bonita. Estava surpreso com sua beleza e polidez.

- Vejo que você é tão cortês quanto Hanna. Ela me avaliou novamente para certificar – se de sua conclusão.

- Flávia? Uma voz desconhecida a chamou em outro canto da sala.

- Por favor, fiquem a vontade, a festa é para vocês. - Hanna, daqui a pouco eu volto para conversamos melhor. Flávia seguiu delicadamente para atender aos outros convidados.

- Se você conseguir! Hanna sinalizou para todas as pessoas que aguardavam para cumprimentar a debutante.

- Ah até os parabéns eu consigo! As duas riram sincronizadas.

O altíssimo pé direito da sala, assim com o corrimão da escada em madeira entalhada, as branquíssimas paredes e o brilho de cristal do chão me impressionaram. Como poderia uma garota ser tão educada e delicada em meio a tudo isso?

- Devo admitir que você estava certa quanto a Flávia. Falei com relutância, tendo de admitir.

- Eu não te falei? Eu a conheço muito bem. Hanna precisou erguer seu tom de voz, para se fazer audível entre os murmúrios e comentários das pessoas.

- Um ponto para você. Contabilizei um placar imaginário como se estivéssemos em um jogo.

- Um ponto? Um ponto? Hanna exclamou incrédula. – A sua conta não está errada não?

- Se ficar reclamando seu saldo cai para -2! Exclamei com a face imóvel, fingindo seriedade.

– E não se esqueça que sou seu chofer. Acrescentei antes que ela argumentasse novamente.

- Ah isso não é justo. Ela respondeu com um riso na face.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Capitulo 3 – Pesadelo.

O murmúrio habitual corria a sala de aula, as garotas formavam seus grupinhos em torno de uma carteira, para ouvir o novo capítulo do “diário alheio”, enquanto exclamavam com gritinhos estridentes. Alguns garotos também se juntavam em rodinhas e colocavam o papo em dia.

Nanda e eu estávamos em nossas carteiras, sentadas com as pernas para o corredor, uma de frente para outra, quando uma professora de pele clara, olhos castanhos e cabelo loiro em um corte Chanel, surge na sala de aula.

- Silencio, vocês estão em uma sala de aula e não em um estádio de futebol. Rosa era uma professora jovem se comparada com as demais do colégio, entretanto a modernidade não se estendia além de sua aparência. A contração foi geral, em um movimento quase que ensaiado, em poucos segundos todos estavam compostos em suas carteiras.

- Assim está melhor. Adentrando a sala, Rosa colocou seu material sobre a mesa e prosseguiu rígida como uma porta. – Pela animação presumo que todos foram muito bem no fechamento da média bimestral. Suspiros de todas as espécies se espalharam no ar, uns de alivio, outros de aflição pelas notas insatisfatórias.

- Como já é de costume, informo a abertura de inscrição para os jogos internos. Os jogos internos consistiam em competições de varias modalidadmodalidades, desde jogos coletivos a competições individuais.

- Os grupos devem escrever em uma folha o nome e a posição dos componentes do time. Esta lista deve ser entregue na secretaria para analise do comitê esportivo até o final da semana. Todos os participantes passarão por analise do histórico escolar e dos campeonatos anteriores, caso tenha participado. As tabelas dos jogos serão afixadas nos painéis de informações, localizados no pátio e corredores.

Em uma folha de cadecaderno, Nanda anotou os nomes das componentes do time do nosso time de Handball.

- Nem coloque meu nome nesta lista. Olhei para Nanda torcendo os dedos para que desta vez fosse diferente dos anos anteriores.

- Você não tem escolha, não há ninguém para ponta esquerda. Objetivamente Nanda podou minhas esperanças.

- Ah claro, falta de opções. Meu tom era desanimando. – Irei jogar por livre e espontânea pressão.

- É... Pode se dizer que sim, mas não faça charme Laura, você sabe que joga bem. Nanda respondeu com um sorriso sarcástico.

- Sinceramente, prefiro minha guitarra!

- Come on girl, let’s have a little bit of fun! Imitando a voz de Philip, Nanda me lança um olhar animado.

- Tudo bem, mas não espere muita coisa. Respondi em um meio sorriso.

- Sem problemas, temos mais cinco na linha e uma no gol, o mínimo que pode fazer é passar a bola, mas eu sei que você pode fazer muito mais do que isso. Nanda me conhecia o bastante para saber que não entraria em um jogo simplesmente para cumprir tabela, entraria para ganhar.

- O Guardador de Rebanho é uma obra de qual autor Srta. Laura? Limpando a garganta, Rosa aproxima - se para que a conversa fosse interrompida, parou no corredor entre Nanda e eu, pretendia pegar – me de surpresa.

- O autor de O Guardador de Rebanho é Fernando Pessoa, pseudônimo de Alberto Caeiro. Percebi a intenção de Rosa de imediato, sem titubear virei – me para a sala limpando minha garganta como em seu gesto.

- Se me permite Professora? Sem aguardar o consentimento de Rosa, prossegui deliberadamente. – O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos também são obras de Alberto Caeiro.

Olhei para Nanda e pisquei suavemente em um gesto que só ela captara, com a mesma gentileza ela repete o gesto, estávamos rindo por dentro.

- A resposta está correta Srta. Laura. O tom de Rosa era de irritação. Rosa não perdia a oportunidade de flagrar algum ato falho, ao menor que fosse. Mais uma vez obteve a frustração como de costume, mais uma vez livrei - me de sua armadilha.

- Prosseguindo. A irritação encorpou a voz de Rosa.

Alberto Caeiro da Silva nasceu em Lisboa em 16 de Abril de 1889. Faleceu de tuberculose em 1915. A sua vida decorreu quase toda em uma quinta do Ribatejo, só os primeiros dois anos dele, e os últimos meses, foram passados na cidade natal. A obra de Caeiro representa a reconstrução integral de paganismo, na sua essência absoluta, tal como...

As palavras flutuavam em minha mente, captava as palavras esporadicamente. Não fui pega de surpresa com a pergunta, pois já sabia da obra e biografia do autor. Sempre adiantava - me as aulas de literatura, conhecendo as intenções de Rosa. Só tomei minha atenção à aula, quando Rosa solicitou uma atividade para a próxima semana.

- Quero uma dissertação dos poemas de Fernando Pessoa, para a próxima aula, agora podem sair. Como de costume a voz de Rosa continuava indiferente.

Guardei meu material na mochila, aguardei Nanda fazer o mesmo e seguimos em direção ao portão de saída. Enquanto caminhava em direção a saída, senti o batimento de meu coração descompassado, algo estava diferente, parecia que alguém me observava.

- Olá. Em um sobressalto, virei - me na direção da voz com o coração batendo em minha garganta, a mão suando frio e as pernas bambeando. Fui pega de surpresa, não imaginava ser interrompida de meu frisson bruscamente.

- Tudo bem com você Laura? Daniel perguntou - me assustado.

- Tudo... Foi só... Uma tontura. Minha voz era tão assustada quanto à expressão de Daniel.

- Você está branca. Daniel segurou meus braços. – Tem certeza de que está bem?

- Tenho... Já passou. Recompunha – me do susto.

- Vou te levar para casa. Com o controle na mão, Daniel acionou a abertura das portas do carro que estava a poucos metros de distância.

- Não precisa, eu já estou bem. Desvencilhei – me da mão sobre meu braço.

- Você vai comigo sim, ou você acha que vou ficar tranqüilo se te deixar ir sozinha? Daniel não estava perguntado, mas sim sobrepondo sua vontade sobre a minha.

A porta do passageiro já estava aberta, a contra gosto, entrei no Esportivo Preto, Daniel fechou a porta, deu a volta no carro e sentou – se a frente do volante, dando a partida.

- Daniel, realmente não precisava, foi só um mal estar. Sentia - me perfeitamente bem para ir caminhando, enquanto que Daniel sentia satisfação em me levar para casa.

- Não há problema em te levar para casa, será um prazer. Suavemente o carro entrou em movimento, ganhando velocidade pela avenida.

- A Nanda cadê a Nanda? E o Phil, cadê eles? Não tinha me dado conta de que estava sozinha com Daniel.

- Eles estão bem. Phil está levando Nanda para casa. Daniel me olhou pela beirada do olho e voltou sua atenção para a avenida à frente.

- Nossa, eu nem vi isso. Gradativamente retomava meus sentidos.

- Realmente você não os viu seguindo para o carro. Daniel respondeu com tranqüilidade. Lentamente o carro diminuiu a velocidade e estacionou em frente de minha casa.

- Chegamos. Daniel desligou o carro e mudou a faixa do CD Player.
- Valeu Dan, mas realmen...

- Shiii, chega de desculpas, você já está em casa ok? Então sua mão seguiu em um leve movimento parando na superfície de meu rosto enquanto seus dedos acariciam minhas bochechas.

- Então tá Dan. Virei o rosto e destravei a porta para descer.

- Laura? Só mais uma coisa. Sua voz soava doce, com se minha face fosse à superfície mais perfeita que ele houvesse tocado.

- Ah claro, claro, o ensaio daqui a pouco no mesmo horário. Levei minha mão à testa, atualizando os fatos em minha mente.

- Na verdade é o contrario, você passou mal e acho melhor não ter ensaio hoje, seria melhor você descansar e... As palavras saíram com ternura e proteção, mas eu não deixei que ele acabasse o discurso.

- Chega desse assunto, eu estou bem, quantas vezes vou ter de repetir isso? Te encontro daqui a pouco. Estava irritada com sua persistência, estava me sentindo muito bem e me senti melhor ainda do lado de fora do carro sem aquela “super proteção”.

Entrei em casa disparada em direção as escadas para meu quarto, não queria ser interrompida por ninguém, porem Neuza estava a minha espera.

- Laura, vem almoçar. Dei meia volta e segui para cozinha, Neuza não era uma pessoa fácil de vencer e eu não estava com animo para contrariar – la.

- Ah... Oi Neuza, estou morrendo de fome. Menti dissimuladamente.

- Então você vai adorar o cardápio de hoje, filé de franco grelhado com batata frita. Com o sorriso no rosto, Neuza me passou um prato e talheres.

- Neuza você é Demais. Coloquei um sorriso falso no rosto e me sentei.

- Aquele menino, o Daniel te trousse hoje, não foi? Percebi o tom de empolgação em sua voz.
- Foi sim por quê? Respondi com neutralidade, já sabia o que vinha pela frente.

- Ele é uma gracinha Laura, vocês dois juntos ficam tão lindinhos. Neuza juntou as mãos e me lançou um olhar de aprovação.

- Arg, não tem nada a ver Neuza, ele é só meu amigo. Rosnei em desaprovação, revirei meus olhos e retomei minha refeição apressadamente.

- Coma de vagar queria, ou terá uma indigestão. A apreensão veio com doçura e proteção.

- É que está uma delicia. Coloquei mais uma garfada na boca e mastiguei o menos possível, refazendo o processo. Terminei a refeição, dei um beijo em Neuza, em forma de agradecimento de seu carinho e cuidado comigo, então segui para as escadas.

Subi as escadas a cada dois degraus e joguei – me em minha cama. Queria entender o que acontecera comigo, como poderia explicar a mim mesma algo tão estranho?

Concentrei – me no exato momento em que fui interrompida por Daniel, e para minha surpresa não queria ter sido interrompida, o mix de emoções daquele momento era delirante. Mas como poderia sentir – me bem com a sensação de estar sendo observada por alguém que não se sabe quem é?

“Estou delirando”, “era apenas o Daniel, claro que era ele, quem poderia ser?” “Será que estou sentindo algo pelo...?”, “Não, estou delirando novamente”, “Eu preciso de um psiquiatra”.

Blin Blom.

Escutei a campainha e olhei para o relógio em minha cabeceira da cama, assustada com o horário que eu não tinha sentido passar.

- Caramba, tenho que me trocar! Ainda estava com o uniforme, abri meu closet, peguei a primeira calça que encontrei, puxei uma gaveta e peguei a primeira camiseta da pilha, recoloquei meu tênis e desci correndo até a garagem.

- Bela corrida para quem passou mal há tão pouco tempo. Nanda me lançou um olhar displicente.

- Eu não passei mal, foi só um susto. Respondi com irritação.

- Caramba, eu sou tão feio assim? Daniel queria ouvir o oposto de sua pergunta.

- Só um pouco, Frank Stain. Enfatizei o assombroso nome.

- HA – HA – HA, é para rir agora ou depois? Não falei o que ele queria ouvir e sua face mudou de um sorriso largo para um meio sorriso sem graça.

- A piada foi muito boa, mas vamos começar logo o ensaio. Phil não estava com humor para piadas, mas sim concentrado para o último ensaio antes do show.

***

O ensaio foi perfeito, evidente que não poderia ser diferente, afinal após tantos dias de dedicação, não havia correções necessárias, estávamos na mesma sintonia, sabíamos de olhos fechados cada arranjo e nos sentíamos exaustos quando o ensaio terminou.

- Ufa, por hoje é só. Nanda soltou as baquetas e elas rolaram para o chão tilintando.

- Foi perfeito. Sentei – me no chão exausta e explodindo de orgulho.

- Você que é perfeita Laura. Daniel me olhou profundamente como se apenas ele e eu estivéssemos na sala.

- Hum hum, I’m going. Vai querer uma carona Nanda? Philip limpou a garganta tentando quebrar o clima.

- Ca... Ca... Claro Phil. Nanda estava perplexa com o comentário escancarado de Daniel.

- Então galera, amanhã, seis horas, aqui, para carregarmos os equipamentos. Eu, mais do que ninguém tratei de quebrar o clima e coloquei um ponto final no assunto e no ensaio.

- Tchau Laura. Nanda e eu trocamos beijinho, Phil fez o mesmo e seguiram para porta.

- Bom... Então até amanhã Dan. Segurei a porta para que ele saísse, já que ele estava propositalmente grudado ao chão.

- Tchauzinho Laura. Com relutância Daniel passou pela porta lentamente, postergando por mais alguns minutos a despedida.

- Tchau Dan. Assim que ele cruzou a porta, fechei – a para que ele não insistisse em permanecer.

***

Sentia – me extremamente orgulhosa pelo excelente trabalho e extremamente esgotada pelo ensaio puxado, entretanto não eram essas coisas que passavam por minha cabeça, aquela sensação inexplicável consumia minha energia. Permaneci em meu quarto por um longo tempo com a TV ligada, mas sem prestar a menor atenção. Fui até o quarto de minha mãe para lhe desejar boa noite, tomei um banho demorado, deixando que a água quente caísse sobre meus ombros, desliguei a ducha com relutância e fui para minha cama.

Estava confortável e aquecida em minha cama, quando de repente senti o frio a minha volta, a chuva caia grossa de um céu cinza chumbo, a visibilidade era restrita a menos de dois passos de distancia no solo irregular e o som era ensurdecedor. Eu corria desesperada em um vale interminável.

- Laura? Escutei meu nome e minhas pernas estremeceram.

Estava sendo observada novamente por aqueles olhos, a sensação de êxtase tomou meu corpo, senti – o arrepiar dos pés a cabeça, virei – me para olhar o retentor daquela voz tão intensa. Neste momento tudo a minha volta parou, os movimentos aconteceram em slow motion, vi cada gesto como em um filme de tiragem antiga, a figura de seu detentor estava entrando em foco, finalmente descobriria de quem auferia aquela sensação maravilhosa.

Em um pulo, com o coração na boca, abri os olhos e percebi que estava em meu quarto, meu corpo estava encharcado de suor, o ar ao meu entorno não parecia suficiente para minha respiração ofegante, necessitei de alguns minutos para respirar novamente, olhei para o rádio relógio na minha cabeceira, que marcava 04h30, respirei fundo mais uma vez, lembrando – me do dia que teria pela frente.

domingo, 18 de outubro de 2009

Capitulo 2 – Visão.

Monte Castelo era uma cidade muito povoada, cheia de prédios comerciais e empresariais, com um trafego intenso de automóveis. Comparando - se as grandes metrópoles, não era difícil imaginar que em poucos anos Monte Castelo seria uma delas

A cidade era circundada por grandes vales de difícil acesso. As estradas que levavam a esses vales eram sinuosas, estreitas e em condições precárias.

Embora quase toda a população de Monte Castelo habitasse no centro, havia os poucos que habitavam a região dos vales. Era em uma dessas pequenas propriedades que eu vivia com minha mãe, tios, tias, primos e uma única prima. Formávamos a família Gaillart, cuja origem vinha de um povo muito antigo.

Verena, uma senhora de meia idade de grandes olhos verdes esmeralda marcantes, seus cabelos negros caem - lhe sobre os ombros, descendo até a metade das costas. Sua pele clara queimada do sol mostra todo o sofrimento de uma vida dura sem regalias e conforto.

Eu era a versão masculina de minha mãe, não fosse pela pele clara não tão sofrida e pelo cabelo castanho claro, iguais ao de meu pai. Mesmo tendo Aires morrido quando eu ainda era criança, tinha certeza das semelhanças com meu pai. Confiava plenamente em minha mãe, e sabia que ela não estava errada quanto às características que eu herdada, não só nas aparências físicas, mas também na personalidade.

Hanna, com seu longo cabelo dourado e seus olhos verdes igualmente parecidos com os meus, era alguns anos mais nova que eu e os demais primos. Éramos como verdadeiros irmãos, estávamos sempre juntos e unidos em todos os momentos.

- Christian? Hanna me chamou enquanto caminhava com os cabelos dançantes pelo ar.

O que foi desta vez? Conhecia bem aquele tom de voz. Sempre que queria algo, Hanna falava o mais graciosa que pudesse.

- Você vai me levar na festa, não vai? Como uma criança indefesa, ela me lançou um olhar de caridade.

- Hãm, vejo que você ainda não desistiu dessa idéia! Minha voz expressava toda decepção pelo pedido de Hanna.

- Por favor, Chris! Um leve desagrado formou – se em sua face.

- Eu não gosto destas festinhas de “patricinha” - falei com aspereza - Você sabe o que eles pensam de nós, não sabe?

- A Flávia não é assim. - Ao ouvir minha pergunta, a voz de Hanna ficou firme novamente, como costuma ser – Sinceramente não sei o que há de errado com a gente.

- Não seja tola Hanna. Fitei – a diretamente nos olhos.

- Que seja então. - Ela virou - se e seguiu pelo caminho de volta – Eu já sei dirigir.

- Não ouse dirigir sozinha até a cidade. - Apertei o passo em sua direção e a segurei pelo braço - Não vou deixar você cometer essa loucura.

- O que pretende fazer então? Hanna puxou o braço de minha mão – Vai me trancar em casa?

- Não. - Suspirei longamente e com relutância completei – Eu vou te levar.

- Ah eu te amo Chris. – Seus braços me envolveu com força – Sabia que poderia contar com você.

- Não sei o que há de tão interessante nesta festa, para você chegar ao ponto da sua insistência. Não podia acreditar na empolgação de Hanna.

- A Flávia é minha amiga, ela não é como os outros, acredite! - Sua cabeça dobrou - Também quero ver a banda da irmã dela.

- Hum, a irmã dela tem uma banda? Posso saber do que? Interessei - me pelo comentário imaginando adolescentes mimados se achando a banda sensação do momento.

- Acho que algo parecido com pop - rock. Hanna estava interessadíssima no gênero musical, enquanto a imagem em minha mente se consolidava.

- Tudo bem, mas não vou sair do seu lado mocinha. Continuei sustentando – a pelo abraço e afaguei seus cabelos.

Hanna e Flávia se conheceram a algum tempo em uma competição de esgrima. Na ocasião Hanna ganhou em primeiro lugar, não foi uma competição difícil para quem tem a espada como tradição passada de geração para geração.

Desde então uma amizade foi construída. As diferenças não foram capazes de separar Hanna e Flávia, na verdade isso foi justamente o que as aproximou.

***

- Meu filho, eu preciso que você vá até a cidade comprar algumas coisas. Minha mãe estava na porta da cozinha com uma lista na mão. – Leve Hanna com você, ela também precisa de algumas coisas da cidade.

- Já irei chama – la. Atravessei um pedaço da propriedade e fui até a casa de Hanna que ficava a alguns metros da minha.

- Estou indo para cidade, quer uma carona? Hanna terminava de varrer a casa enquanto eu cruzava a porta de entrada.

- Hei cuidado, acabei de limpar a casa. Colando uma mão na cintura e projetando a outra na minha direção, ela me lançou um olhar repreensivo.

- Ops, me desculpe, estou te esperando aqui fora. Dei meia volta para espera – la do lado de fora.

Estava prestes a entrar em meu velho Jeep Willians, quando minha mãe me barrou, segurou forte minha mão, me olhou com olhos verdadeiros e despejou mais uma vez o mesmo sermão.

- Meu filho, você sabe de todo nosso passado, nada do que passamos foi em vão e está longe de acabar. A voz de minha mãe era penetrante.

- Não se preocupe, nunca esquecerei nosso passado. Não agüentava mais a mesma ladainha, em toda minha vida ouvira a mesma coisa milhões de vezes, em todas, a sentença era a mesma, já conhecia de cor cada palavra, entretanto desta vez havia algo a mais a ser dito.

- Tempos difíceis estão prestes a acontecer novamente, esteja preparado. Aquelas ultimas palavras eram novas para mim, armazenei – as em minha mente. Se a intenção de minha mãe era me martirizar, ela conseguira.

Entrei no automóvel, dei a partida, o motor rangeu e falhou, dei a partida novamente, e mais uma vez falhou, será que meu próprio carro estava contra mim? Dei a partida pela terceira vez e nesta o motor rangeu com potencia, engatei a primeira, soltei o freio, e acelerei, sai da propriedade e entrei na estrada.

O caminho para cidade foi silencioso, mesmo com Hanna ao meu lado. Não gostava quando minha mãe tocava neste assunto, porém desta vez havia algo a mais que eu estava prestes a descobrir.

- O que foi Christian? Você está tão calado! Estava pensativo quando Hanna quebrou o silencio.

- Não se preocupe Hanna, não é nada. Não queria ela se envolvesse no assunto, de preocupado bastava eu.

- Já sei, é a tia Verena com aquela história novamente. Hanna era extremamente perceptiva, com facilidade pegou meu ponto fraco.

- Exatamente. Respondi sem rodeios, afinal não adiantaria disfarçar, concentrei – me na estrada a minha frente e não disse mais nada.

Após quase uma hora de viagem pela estrada, chegamos ao centro da cidade. Eu odiava o transito das grandes avenidas, com a temperatura elevada, ficava ainda mais insuportável dirigir na cidade. Mesmo com aquele barulho de motores e buzinas vindas de todos os lados, resolvi baixar a janela para aliviar o calor, foi então que vi algo que jamais espera, minha boca secou, meu coração palpitou forte contra meu peito, e senti seus batimentos em minha garganta.

***

O caminho de volta para casa foi tão silencioso quanto a ida para cidade, estava absorto em pensamentos, quando Hanna me perguntava algo, eu respondia atônito sem prestar atenção no que falava.

Hanna me conhecia o bastante para saber que algo havia me tomado profundamente, nunca me vira em tal estado. Achou por bem não questionar – me, por mais que investisse em um interrogatório, não obteria uma resposta concreta.

Ao chegarmos em casa, estacionei o Jeep, desci atônito, bati a porta sem me dar conta que Hanna ainda o – ocupava e segui obstinado na direção do vale.

Caminhei por uma trilha até a margem do largo e fundo rio que cortava o vale e desembocava em uma planície de águas cristalinas, localizada quilometro a baixo das colinas.

Como poderia explicar para eu mesmo o sentimento inexplicável que sentia dentro do peito? Este era um sentimento incomum, desconhecido, incomparável a todos os outros já vividos em minha vida.

Sentei – me a alguns metros da margem do rio, sentindo a brisa tomar meu rosto, desejei que aquela brisa suave fosse capaz de atenuar o conflito dentro de mim. Fechei os olhos e a imagem apareceu pela milésima vez diante de meus olhos.

Por um longo tempo permaneci ali, estuporando meu próprio peito, já estava deitado adormecido no solo terroso. De repente estava caminhando pelo vale, buscava algo que cegava meus olhos, minha face se retorcia de dor, meu corpo não respondia a meus comandos, sentia o coração bater mais rápido e a cada movimento, estava muito próximo e não podia falhar, esta era minha única chance de vencer.

Acordei em um pulo com a respiração ofegante, olhei ao redor, estava no mesmo cenário de meu sonho, respirei fundo, “um sonho, foi apenas um sonho”, falei baixinho comigo mesmo. Recostei – me novamente no solo e olhei para o céu, as rajadas laranja davam lugar a um cinza arroxeado. Cheguei em casa, com o céu tomado de púrpura bruxuleante.

Capitulo 1 – Scarlet.

No colégio diocesano da cidade de Monte Castelo, eu olho para o relógio e percebo que ainda faltam quinze minutos para o término da prova. “A velocidade do tempo é descompassada” “por vezes, o tempo passa de maneira alucinante e por outras lentamente”. Como já havia terminado minha prova, resolvi pensar em outras coisas, acabei repassando nota por nota das musicas do próximo ensaio.

Finalmente o sinal soou, anunciando o término da aula, anunciando também o termino da prova de matemática do 2º ano.

- Informo que o tempo para a prova terminou, coloquem os seus testes sob minha mesa. Vocês estão dispensados. Disse uma das professoras mais antigas do colégio, adorada por poucos e odiada por muitos.

Em suas aulas Madalena era enérgica, parecia mais uma general do que uma professora, porém fora da sala de aula era a bondade em pessoa, qualidade que poucos conheciam. Eu conhecia bem as qualidades daquela mulher corpulenta de cabelos grisalhos. Como poderia esquecer de todas às vezes em que Madalena fingia não ver nem ouvir nossas armações.

- Como foi na prova Laura?

- Possivelmente bem, e você Nanda?

- Péssima para dizer a verdade. A voz de Fernanda soou desanimada. - Definitivamente trigonometria não entra na minha cabeça...

- Ah... Trigonometria não é tão difícil assim!
- Realmente não deve ser para quem tem um pai e um irmão engenheiro.

- É, pode - se dizer que isso conta, mas eu posso te ajudar da próxima, se bem que... Você pode pedir ajuda ao Daniel, afinal ele está no 3º! Respondi com um tom animador.

- Laura não seja ridícula. Você sabe muito bem que o Daniel só tem olhos para você. A resposta de Fernanda veio com uma leve irritação.

- Eu ainda acho que vocês formam um belo casal. Falei virando os olhos imaginando a situação.

- Eu também acho, mas isso nem passa pela cabeça do Daniel. Nanda fecha olhos e eu tinha certeza que neste momento ela estava pensando nele.

Daniel estava no 3º ano, e por onde passava era só suspiros. 90% das garotas afogavam - se em seus lindos e profundos olhos azuis, que mais pareciam duas piscinas de águas cristalinas. Seus cabelos negros, propositalmente arrumado em um topete a lá Elvis Presley, juntamente com sua altura e porte físico impunham ainda mais sua beleza.

Mesmo com tantas garotas aos seus pés, Daniel persistia em uma garota de pele clara, olhos cor de mel e cabelos castanhos com luzes californianas loiras na ponta. Eu não era nenhuma miss, também não era muito alta, mas aos olhos de Daniel tudo em nos dois se encaixava perfeitamente.

- Por falar no topete, o dono aparece! Um meio sorriso de deboche surge em meus lábios.

- Gostei dessa Laura. Daniel responde com um sorriso. - mas posso saber do que se trata o assunto?

- A Nanda acha que não foi muito bem em trigonometria.

- Diferente de você né Laura? Nanda perdia a paciência a cada comentário da prova.

- Ah deixa isso pra lá! Eu não queria deixar Nanda ainda mais irritada.

- Ora, ora, se não são as garotas mais lindas do colégio! Philip que vinha logo atrás de Daniel, abriu espaço na rodinha.

- Olá Phil. Como em um coro ensaiado Nanda e eu respondemos afinadamente.

- Já falei que vocês são “so pretty”? Phil nos olhou com uma cara de conquistador.

- Nós já sabemos Phil! Philip sempre fazia o mesmo comentário.

- Nossa como você está irritada Nanda, mas nem vou perguntar, pois já sei o motivo da sua irritação.

- muito grata! Neste momento parecia que Nanda iria explodir de tanta irritação.

Philip, também estava no 3º, ele e Daniel eram inseparáveis, os dois até pareciam irmão, pelo porte e altura, tom de pele e olhos, a diferença estava apenas nos cabelos loiros e nos olhos verdes de Philip.

Nanda tinha olhos verdes, seu cabelo era curto e vermelho florescente, todo repicado e arrepiado, também era um pouco mais alta que eu, seu “visual” era digno de uma pop star.

O sinal soou novamente, desta vez anunciando o termino do intervalo.

- Preparadas para o show meninas? Daniel perguntou em um tom sarcástico.

- Claro, mal posso esperar. Eu já sabia o que estava por vir.

- Phil, você está com a maquina ai?

- Estou sim Dan, Don’t worry!

- Ah, não se esqueçam do ensaio hoje à tarde! Olhando por cima do ombro, falei para os dois, que seguiam para o teste de química. Nanda e eu seguimos pelo lado oposto do corredor, para o teste de português.

O comportamento sistemático era comum em quase todos os professores do colégio. Quem esperava algo diferente em um colégio diocesano? Entretanto, havia um professor um tanto quanto moderno demais para os padrões do colégio.

Sergio era professor de física e química, e sempre tinha um invento para suas aulas. Seu cabelo era sempre desarrumado, como se ele apenas acordasse, vestisse - se e viesse para o colégio. Os óculos tortos sobre o nariz e o chapéu completavam a figura do próprio inspetor bugiganga.

O teste para o 3º ano, não seria diferente do habitual, consistia na apresentação e explicação de uma experiência.

Já sabendo dos futuros acontecimentos, Nanda e eu terminamos nossos testes o mais rápido possível, coloca - o sobre a mesa da professora e nos preparamos para correr, afinal, a qualquer momento...

BOOOMMM... Ouve - se uma explosão vinda do laboratório, gritos histéricos de garotas enquanto uma fumaça branca corria pelo corredor do colégio. Em menos de um minuto todos os alunos estavam correndo pelos corredores do colégio, alguns fugindo da fumaça, outros em direção ao laboratório para checar com os próprios olhos o que tinha acontecido.

Já estávamos no pé da escada, esperando pela passagem de nossos comparsas com Sergio aos seus pés. Ao passar por nos, os dois dizem baixinho:

- Até mais tarde na sua casa Laura, ás 14h00!

***

Eu odiava aquele uniforme azul escuro e camiseta branca do colégio, a única coisa que gostava em meu uniforme diário era meu tênis preto. A primeira coisa que fazia quando chegava em casa era colocar uma calça jeans, uma baby look básica e recolocar o tênis.

Embora tivesse toda oportunidade de ser uma perfeita “patricinha”, seguia justamente pelo caminho oposto, não gostava de roupas extravagantes, tinha um “Look” básico. Adorava calças jeans, camiseta baby look e claro, tênis.

Após o almoço, antes da chegada da galera para o ensaio, corri para o escritório do papai. Parada ali, podia lembrar dos momentos passados com meu irmão, aquele lugar me trazia boas lembranças, mesmo quando lembrava das brigas tolas de quando nos dois queríamos ler o mesmo livro e quando um mudava de idéia o outro mudava também, tornando a briga repetitiva.

- Papai, eu quero ler esse, mas o Vini também quer.

- Eu escolhi esse primeiro, não vem não pentelha.

- Parem com isso vocês dois, há livros suficientes para os dois. Dizia meu pai quando começávamos a brigar.

Vinicius estava no 1º ano de Engenharia, morava em uma república em São José, onde havia passado na universidade pública. Embora o número de inscritos fosse mais de cem por vaga, não foi difícil passar. Nos dois sempre estudamos nos melhores colégios e certamente herdamos a determinação e inteligência de nosso pai.

Marco Antonio Boaventura era diretor de uma das maiores construtoras Civis da América Latina. Sendo de origem humilde e família pobre, não freqüentou colégios nobres, mas sempre se dedicou em seus estudos, entrou na universidade pública e gradativamente conquistou tudo o que possuía nos dias atuais.

O “escritório – biblioteca” possuía diversos livros de engenharia, coleções e series que eu adorava, além da coleção de CDs e DVDs do papai, mais um motivo para eu adorar aquele lugar.

A coleção de CDs e DVDs era imensa e era possível achar de tudo, dos mais clássicos aos mais modernos, sem contar a seção de raridades, como uma edição especial de um show dos Scorpions gravado por um fã e leiloado pela internet.

Escolhi um CD da seção de raridades, coloquei – o no Notebook que estava sobre a mesa do escritório e conectei o fone de ouvido, até que a campainha tocasse.

- Pode deixar que eu atendo Neuza. Neuza trabalhava em nossa casa desde antes mesmo de Vinícius e eu nascermos.

- Quais as novidades desta vez? - Perguntei olhando para Daniel com uma careta – Conseguiu ser expulso?

- Infelizmente ainda não. - Daniel responde em um sorriso torto – Mas com mais algumas tentativas eu chego lá!

- Nos deram apenas três dias de férias. - Philip expressava deliberadamente sua alegria – Estou desapontado, eu esperava mais.

- Sinceramente não sei como vocês chegaram ao 3º. Exclamei virando os olhos.

- Phil, mostre a elas as fotos do nosso próximo álbum do orkut. – O álbum será: Como explodir uma escola em 10 segundos.

Nanda! - Virei - me para Nanda apontando para seu cabelo - Você trocou as pilhas hoje?

- Como você acha que eu vou aparecer detrás da batera? Nanda responde com sarcasmo.

- Sozinhos? Daniel pergunta com entusiasmo na voz.

- Hãm... acho que não. Lancei - lhe um olhar repreensivo. – A Neuza mora aqui esqueceu?

- Hum... Que pena. Fingindo tristeza Daniel balançou a cabeça desanimado.

A ausência de meu pai era normal, já que ele ficava vários dias fora, em viagens de negócio. Andréia, por sua vez era uma perfeita “madame”, ficava o dia todo fora, fazendo cursos ou compras que eu julgava desnecessárias, considerava a minha mãe uma consumista de primeiro nível.

- So lets get down to business? A impaciência de Phil aflorava em sua voz.
- Ok, ok. - Respondi com o dedo direcionado para a garagem – Vocês já sabem o caminho.

A garagem de minha casa era o lugar habitual dos ensaios, lá estavam todos os instrumentos da Banda, caixas de som, amplificadores, bateria, baixo, guitarras e microfones.

Antes do inicio do ensaio, repassamos a lista de músicas que iríamos tocar na festa de quinze anos de Flávia, irmã mais nova de Nanda.

A bateria foi ocupada por Nanda, Phil pegou o baixo, Daniel sua guitarra transparente e eu minha guitarra púrpura. Estava formada a Scarlet.

As batidas da bateria soaram, seguida poucos instantes depois do baixo, logo depois pela guitarra, então minha voz completou a melodia. Nanda era fera na baterra, Daniel e Philip por sua vez não ficavam atrás. Era boa em muitas coisas, mas definitivamente adorava musica, todos diziam que minha afinação era fascinante, quase entorpecente. Eu apenas acreditava que a pratica fazia a perfeição.

- Parô, parô... Dan, você está surdo? - Com irritação na voz, Phil dirigiu - se a Daniel - Você está entrando errado no refrão!

- Claro que não. - Daniel Justificou – se admirado pela brusca interrupção - Acho que é você que está surdo!

- Dan... - Olhei para Daniel com determinação - Você está entrando antes da contagem.

Daniel não seria capaz de discutir comigo. Ele conhecia muito bem meu olhar, quando falava daquele jeito, tinha certeza do que estava falando.

- Acho que preciso de um break! A voz de Daniel ressoava em um cansaço evidente.

- Apoiado! - Nanda levantou - se detrás da bateria e largou as baquetas – Estou com fome.

Ao ver a movimentação do grupo em direção a cozinha, Neuza adiantou - se para preparar o lanche.

Em todos esses anos, convivera mais com Neuza do que com minha própria mãe. Amava aquela senhora miudinha, de cabelos brancos arrumados em um coque, a tinha como minha própria avó.

- Você é demais Neuza. Abracei Neuza e a beijei no rosto.

- Vocês precisam se alimentar bem para se desenvolverem. - A voz de Neuza era suave e fraterna - Apontando para Nanda disse: - Olha só como essa menina está magrinha!

- A claro! Reprimi a gargalhada que estava prestes a explodir, enquanto olhava para os demais.

Após o “lanchinho”, voltamos para garagem, ensaimos por toda tarde, mas ainda faltavam alguns arranjos a serem afinados nos próximos dias que antecediam a festa.