domingo, 18 de outubro de 2009

Capitulo 2 – Visão.

Monte Castelo era uma cidade muito povoada, cheia de prédios comerciais e empresariais, com um trafego intenso de automóveis. Comparando - se as grandes metrópoles, não era difícil imaginar que em poucos anos Monte Castelo seria uma delas

A cidade era circundada por grandes vales de difícil acesso. As estradas que levavam a esses vales eram sinuosas, estreitas e em condições precárias.

Embora quase toda a população de Monte Castelo habitasse no centro, havia os poucos que habitavam a região dos vales. Era em uma dessas pequenas propriedades que eu vivia com minha mãe, tios, tias, primos e uma única prima. Formávamos a família Gaillart, cuja origem vinha de um povo muito antigo.

Verena, uma senhora de meia idade de grandes olhos verdes esmeralda marcantes, seus cabelos negros caem - lhe sobre os ombros, descendo até a metade das costas. Sua pele clara queimada do sol mostra todo o sofrimento de uma vida dura sem regalias e conforto.

Eu era a versão masculina de minha mãe, não fosse pela pele clara não tão sofrida e pelo cabelo castanho claro, iguais ao de meu pai. Mesmo tendo Aires morrido quando eu ainda era criança, tinha certeza das semelhanças com meu pai. Confiava plenamente em minha mãe, e sabia que ela não estava errada quanto às características que eu herdada, não só nas aparências físicas, mas também na personalidade.

Hanna, com seu longo cabelo dourado e seus olhos verdes igualmente parecidos com os meus, era alguns anos mais nova que eu e os demais primos. Éramos como verdadeiros irmãos, estávamos sempre juntos e unidos em todos os momentos.

- Christian? Hanna me chamou enquanto caminhava com os cabelos dançantes pelo ar.

O que foi desta vez? Conhecia bem aquele tom de voz. Sempre que queria algo, Hanna falava o mais graciosa que pudesse.

- Você vai me levar na festa, não vai? Como uma criança indefesa, ela me lançou um olhar de caridade.

- Hãm, vejo que você ainda não desistiu dessa idéia! Minha voz expressava toda decepção pelo pedido de Hanna.

- Por favor, Chris! Um leve desagrado formou – se em sua face.

- Eu não gosto destas festinhas de “patricinha” - falei com aspereza - Você sabe o que eles pensam de nós, não sabe?

- A Flávia não é assim. - Ao ouvir minha pergunta, a voz de Hanna ficou firme novamente, como costuma ser – Sinceramente não sei o que há de errado com a gente.

- Não seja tola Hanna. Fitei – a diretamente nos olhos.

- Que seja então. - Ela virou - se e seguiu pelo caminho de volta – Eu já sei dirigir.

- Não ouse dirigir sozinha até a cidade. - Apertei o passo em sua direção e a segurei pelo braço - Não vou deixar você cometer essa loucura.

- O que pretende fazer então? Hanna puxou o braço de minha mão – Vai me trancar em casa?

- Não. - Suspirei longamente e com relutância completei – Eu vou te levar.

- Ah eu te amo Chris. – Seus braços me envolveu com força – Sabia que poderia contar com você.

- Não sei o que há de tão interessante nesta festa, para você chegar ao ponto da sua insistência. Não podia acreditar na empolgação de Hanna.

- A Flávia é minha amiga, ela não é como os outros, acredite! - Sua cabeça dobrou - Também quero ver a banda da irmã dela.

- Hum, a irmã dela tem uma banda? Posso saber do que? Interessei - me pelo comentário imaginando adolescentes mimados se achando a banda sensação do momento.

- Acho que algo parecido com pop - rock. Hanna estava interessadíssima no gênero musical, enquanto a imagem em minha mente se consolidava.

- Tudo bem, mas não vou sair do seu lado mocinha. Continuei sustentando – a pelo abraço e afaguei seus cabelos.

Hanna e Flávia se conheceram a algum tempo em uma competição de esgrima. Na ocasião Hanna ganhou em primeiro lugar, não foi uma competição difícil para quem tem a espada como tradição passada de geração para geração.

Desde então uma amizade foi construída. As diferenças não foram capazes de separar Hanna e Flávia, na verdade isso foi justamente o que as aproximou.

***

- Meu filho, eu preciso que você vá até a cidade comprar algumas coisas. Minha mãe estava na porta da cozinha com uma lista na mão. – Leve Hanna com você, ela também precisa de algumas coisas da cidade.

- Já irei chama – la. Atravessei um pedaço da propriedade e fui até a casa de Hanna que ficava a alguns metros da minha.

- Estou indo para cidade, quer uma carona? Hanna terminava de varrer a casa enquanto eu cruzava a porta de entrada.

- Hei cuidado, acabei de limpar a casa. Colando uma mão na cintura e projetando a outra na minha direção, ela me lançou um olhar repreensivo.

- Ops, me desculpe, estou te esperando aqui fora. Dei meia volta para espera – la do lado de fora.

Estava prestes a entrar em meu velho Jeep Willians, quando minha mãe me barrou, segurou forte minha mão, me olhou com olhos verdadeiros e despejou mais uma vez o mesmo sermão.

- Meu filho, você sabe de todo nosso passado, nada do que passamos foi em vão e está longe de acabar. A voz de minha mãe era penetrante.

- Não se preocupe, nunca esquecerei nosso passado. Não agüentava mais a mesma ladainha, em toda minha vida ouvira a mesma coisa milhões de vezes, em todas, a sentença era a mesma, já conhecia de cor cada palavra, entretanto desta vez havia algo a mais a ser dito.

- Tempos difíceis estão prestes a acontecer novamente, esteja preparado. Aquelas ultimas palavras eram novas para mim, armazenei – as em minha mente. Se a intenção de minha mãe era me martirizar, ela conseguira.

Entrei no automóvel, dei a partida, o motor rangeu e falhou, dei a partida novamente, e mais uma vez falhou, será que meu próprio carro estava contra mim? Dei a partida pela terceira vez e nesta o motor rangeu com potencia, engatei a primeira, soltei o freio, e acelerei, sai da propriedade e entrei na estrada.

O caminho para cidade foi silencioso, mesmo com Hanna ao meu lado. Não gostava quando minha mãe tocava neste assunto, porém desta vez havia algo a mais que eu estava prestes a descobrir.

- O que foi Christian? Você está tão calado! Estava pensativo quando Hanna quebrou o silencio.

- Não se preocupe Hanna, não é nada. Não queria ela se envolvesse no assunto, de preocupado bastava eu.

- Já sei, é a tia Verena com aquela história novamente. Hanna era extremamente perceptiva, com facilidade pegou meu ponto fraco.

- Exatamente. Respondi sem rodeios, afinal não adiantaria disfarçar, concentrei – me na estrada a minha frente e não disse mais nada.

Após quase uma hora de viagem pela estrada, chegamos ao centro da cidade. Eu odiava o transito das grandes avenidas, com a temperatura elevada, ficava ainda mais insuportável dirigir na cidade. Mesmo com aquele barulho de motores e buzinas vindas de todos os lados, resolvi baixar a janela para aliviar o calor, foi então que vi algo que jamais espera, minha boca secou, meu coração palpitou forte contra meu peito, e senti seus batimentos em minha garganta.

***

O caminho de volta para casa foi tão silencioso quanto a ida para cidade, estava absorto em pensamentos, quando Hanna me perguntava algo, eu respondia atônito sem prestar atenção no que falava.

Hanna me conhecia o bastante para saber que algo havia me tomado profundamente, nunca me vira em tal estado. Achou por bem não questionar – me, por mais que investisse em um interrogatório, não obteria uma resposta concreta.

Ao chegarmos em casa, estacionei o Jeep, desci atônito, bati a porta sem me dar conta que Hanna ainda o – ocupava e segui obstinado na direção do vale.

Caminhei por uma trilha até a margem do largo e fundo rio que cortava o vale e desembocava em uma planície de águas cristalinas, localizada quilometro a baixo das colinas.

Como poderia explicar para eu mesmo o sentimento inexplicável que sentia dentro do peito? Este era um sentimento incomum, desconhecido, incomparável a todos os outros já vividos em minha vida.

Sentei – me a alguns metros da margem do rio, sentindo a brisa tomar meu rosto, desejei que aquela brisa suave fosse capaz de atenuar o conflito dentro de mim. Fechei os olhos e a imagem apareceu pela milésima vez diante de meus olhos.

Por um longo tempo permaneci ali, estuporando meu próprio peito, já estava deitado adormecido no solo terroso. De repente estava caminhando pelo vale, buscava algo que cegava meus olhos, minha face se retorcia de dor, meu corpo não respondia a meus comandos, sentia o coração bater mais rápido e a cada movimento, estava muito próximo e não podia falhar, esta era minha única chance de vencer.

Acordei em um pulo com a respiração ofegante, olhei ao redor, estava no mesmo cenário de meu sonho, respirei fundo, “um sonho, foi apenas um sonho”, falei baixinho comigo mesmo. Recostei – me novamente no solo e olhei para o céu, as rajadas laranja davam lugar a um cinza arroxeado. Cheguei em casa, com o céu tomado de púrpura bruxuleante.

4 comentários:

  1. Nem um pouco misterioso esse christian, não? Que segredos a família dele esconde? O que ele vai ter a ver com o pessoal da banda?

    Vê se posta mais rápido!/olhaquemfala

    ps: Gostei da sua idéia de ''Ponto de vista'' duplo... '')

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  2. Henri tirou as palavras dos meus dedos ^^

    show de bola Talita :D
    esperando pelo terceiro capitulo

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  3. Oooh, mistério!! :O
    (agora q vi q não tinha comentado!)

    Cristian super gato loiro gostosão *-* hoiaoihahioa

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  4. Foi possuido... a unica explicação para o final deste paragrafo...

    Arividade paranormal... cuidado ele pode ser sonambulo..

    rs.

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