domingo, 17 de janeiro de 2010

Capitulo 5 – Desencontro.

Do lado de fora da casa, pessoas aglomeravam – se na varanda diante do palco, aguardando pelo inicio do show. As borboletas em meu estomago lutavam por espaço, minhas pernas tremiam e minhas mãos suavam. Enquanto caminhava para o palco, senti a agitação e vibração da platéia. Subi no palco, rezando para que minha voz não falhasse.

- Boa noite, eu sou Laura Boaventura, vocalista, e estes são meus amigos e companheiros de banda, Philip Veras no baixo, Fernanda Schmidt na bateria e Daniel Paes Leme na guitarra, apresento – lhes Scarlet. Apresentei desnecessariamente cada membro, já que éramos conhecidos por todos do colégio terminando a introdução com o nome da banda.

De trás da bateria, Nanda tocou uma baqueta na outra e iniciou a contagem, a primeira nota da bateria soou e multiplicou – se no ambiente, então o show começou para delírio da platéia.

***

Garçons passavam de um lado para outro, servindo refrigerantes, energéticos e sucos à vontade. O ambiente estava apinhado de convidados, sentia – me sufocado, precisava de um lugar mais arejado, presumi que a parte externa estaria mais tranqüila.

Olhei para os lados e Hanna não estava mais ao alcance de meus olhos, não queria bancar o primo “super – protetor”, mas era responsável por ela, não iria sufoca – la, apenas manter – me próximo e ter os olhos em vigília não faria mal algum. Servi – me de um suco, antes de sair à procura de Hanna.

Segui por entre a movimentação de pessoas, e ao cruzar a porta, captei um leve som decorrente da parte exterior da casa, a harmonia era agradável e a afinação fascinante. Tomado pela melodia segui na direção daquela musica.

Caminhei até um lado da varanda, onde pessoas aglomeradas pulavam e gritavam animadamente. Gradualmente o som tornou – se mais audível, me aproximei ao palco e visualizei a banda geradora da harmonia.

Esta era a “tal” banda da irmã da aniversariante, mas quem seria a irmã de Flavia? Com esta súbita pergunta em mente, olhei cada integrante da banda a fim de identifica – los. O baixo e a guitarra eram ocupadas por dois garotos, a bateria por uma garota que se fazia visível por conta do cabelo vermelho fluorescente, com a face igualmente delicada como a de Flávia, então olhei para a ultima integrante, detentora da voz mais aveludada e afinada que escutara na vida.

Focalizei aquela garota de pele clara e cabelos castanhos, loiro nas pontas, focalizei diretamente aqueles olhos cor de mel e foi então que entrei em estado de choque. Queria me mexer e mais do que isso, precisava me afastar, mas meu corpo não respondia as minhas necessidades, sentia – me petrificado e hipnotizado pela luz intensa daquela garota.

***

Os ensaios foram mais que suficientes, a Scarlet fazia um show digno de profissionais, cada um de nós mostrava suas habilidades em seu instrumento. Além da minha guitarra, também impunha minha voz com afinação.

As pessoas a nossa frente acompanhavam cada musica, achava tudo aquilo maravilhoso, sentia o inicio do sucesso em cada batida, já imaginava a Scarlet fazendo show para uma platéia gigantesca.

Em cima do palco nada distraia minha atenção, sentia cada nota e cantava com total concentração, então uma sensação de êxtase tomou meu corpo, senti - o arrepiar, minhas pernas bambearam, tudo a minha volta pareceu lento demais para a velocidade de minha mente, cada nota soava milésimos de segundos mais lentas que o normal.

Por um momento pensei que estava sendo tomada pela hesitação da platéia, mas não, não era a emoção pela apresentação, mas a mesma sensação daqueles olhos me observando e desta vez senti o olhar de seu possuidor muito próximo.

Abri os olhos e investiguei cada pessoa ao meu redor, o temor subia por minhas pernas involuntariamente. Segurei com força minha guitarra para que ela não pendesse ao chão, captei cada olhar como em uma seqüência de varias fotografias, eis que meus olhos deparam – se com o olhar mais penetrante de toda minha vida.

Ali estava ele, com os cabelos jogados para trás, seu porte físico e estatura impunham sua beleza e força, a doce fragrância era perceptível mesmo a distancia, mas aqueles intensos olhos verdes era tudo de mais profundo que sentira, deixavam – me em transe.

Estava desmoronado, mas não podia, não neste momento tão especial, queria correr, mas me sentia acorrentada à aquilo que sempre sonhei, estar naquele palco era tudo que mais queria.

“Isso é loucura, só pode ser”. Fechei os olhos novamente, “preciso me concentrar, não vou colocar tudo a perder”, neste momento uma força súbita e inexplicável regenerou meu corpo e mente, quando abri meus olhos, ele não estava mais lá.

***

Com dificuldade quebrei o transe e segui pelo caminho de volta, agora diferentemente do momento de hipnose, meus movimentos eram rápidos, meu corpo respondia aos meus comandos com rapidez absurda, meu batimento cardíaco era alucinante e audível em minha jugular e em meus pulsos cerrados.

Sem pensar, percorri os ambientes da festa, em pouco tempo estava no jardim de entrada da casa, ali o ar parecia mais constante dos demais ambientes, ainda ofegante, respirei fundo e pouco a pouco minha respiração, movimentos e músculos tornaram – se mais amenos.

“Hanna, preciso encontra - la” Com os sentimentos recobertos, lembrei o que pretendia fazer antes de cruzar aquela porta e surpreender – me com o acontecimento.

***

Tudo aconteceu rapidamente, rápido o bastante para que ninguém percebesse uma pequena falha se quer, nem mesmo meus amigos de banda foram capazes de perceber algo anormal em meu comportamento.

O show prosseguiu normalmente, mantive o controle da situação graças a meu incrível poder de concentração, poder este que eu desconhecia até então. A Scarlet tocou a ultima musica e dentro de mim, sentia um emaranhado de sentimentos, por um lado o mérito do sucesso, do outro a angustia tomava meu peito.

A platéia vibrou com o encerramento do show, nos despedimos do publico calorosamente e com imensa satisfação saímos do palco.

Em minha mente ficou gravada aquela imagem, simplesmente não conseguia apagar, só pensava naquele príncipe parado a minha frente. A calça jeans básica e a camisa branca, em seu porte físico, eram perfeitas para o deus grego que exalava uma beleza pura e límpida.

Estava mergulhada naquela divindade que a natureza criara, quando a imagem começou a desaparecer gradativamente diante de meus olhos, alguém estava sacudindo meu ombro. Abri os olhos e a minha frente focalizei Daniel.

- Laura o show foi maravilhoso. Daniel me puxou para mais perto e me deixei levar pelo abraço. - Você foi maravilhosa. Daniel sussurrou em meu ouvido enquanto me enlaçava em seus braços.

- Ah foi legal. Ainda estava anestesiada, olhei ao entorno e não me lembrava como chegara até ali.

- Fala sério Laura, você deve estar dormindo. Nanda me lançou um olhar cintilante. – O show foi estupendo.

- Ah você foi d+ Nanda. Desvencilhei – me de Daniel e a abracei carinhosamente.

- Você viu a vibração da galera? Philip estava radiante, seu sorriso expressava toda sua exultação.

- Ah você também foi d+ Phil. Repeti o gesto anterior e abracei Philip.

- De - li - ran - te! Busquei uma palavra que definisse todos meus sentimentos, respirei fundo e pronunciei em tom musical.

- Agora é hora da diversão querida. Mal tinha recuperado o ar dos abraços, quando Daniel pegou minha mão e abriu caminho rumo à pista de dança.

O percurso até a parte interior da casa parecia impossível de ser cruzado, agora, as pessoas que assistiram ao show, nos cercavam gritando enlouquecidas. Daniel era puxado de um lado para outros pelas garotas mais ousadas, seu rosto estampava um sorriso de divertimento enquanto ele dizia: - Calma garotas, eu sou de todas vocês.

Aproveitei – me da popularidade de Daniel, seguindo em seu vácuo, mesmo assim alguns puxões foram inevitáveis, e para meu espanto, o coro de meu nome também não. Logo as nossas costas, Fernando e Philip seguiam com a mesma popularidade.

“Meu Deus, nos somos a Scarlet e não a Paramore”. Pensei em meio às aclamações e puxões.

Com muito custo entramos na pista de dança, logo atrás a aglomeração de pessoas abarrotou o ambiente, pouco a pouco a multidão se dispersou na grande pista de dança.

A musica no ambiente mudou de eletrônico para Flash back, as luzes coloridas giravam na pista, a fumaça intensificou – se pelo salão, a musica encheu o ambiente elevando a agitação das pessoas.

Dançávamos próximos uns ao outros, constantemente pessoas chegavam para dançar conosco, uns desejavam nossa amizade, mas a grande maioria desejava a popularidade que nossa companhia proporcionaria.

- Gente eu já volto. Nanda levantou a voz para se fazer ouvir.

- O quê? Gesticulei informando que não tinha entendido.

- Eu já volto. Desta vez Nanda falou em meu ouvido para que eu escutasse.

- Aonde você vai? Repeti seu gesto e perguntei em seu ouvido.

- Meu pai está me chamando. Ainda em meu ouvido, Nanda completou. – Parece que um produtor está interessado na Scarlet.

- Então ele assistiu o show? Perguntei com vivacidade.

- Eu não sei, não entendi muito bem, preciso ir até lá para ter certeza. Sua agitação era evidente só pela agitação de suas mãos e expressões faciais.

- Tomara que seja isso mesmo. Também estava muito empolga com a novidade.

- Vou lá ver se é isso mesmo! Nanda seguiu em meio a multidão, para certificar – se.

- Daniel, eu não consigo nem imaginar isso que a Nanda falou agora. Estava perplexa.

- Então comece a acreditar, parece que é isso mesmo. Não menos empolgado ele fitou meus olhos e me segurou pelos ombros. Deixei – me levar pela imensa felicidade e cai em seus braços.

***

Averigüei todos os ambientes e não encontrei Hanna em nenhum deles, segui então para última opção, a pista de dança. Entrei no ambiente recebendo os flashes de luzes dançantes, não seria uma tarefa fácil encontrar alguém em meio à coreografia das luzes, diante de meus olhos, as imagens eram constantemente modificadas.

No emaranhados de luzes, pessoas e imagens, tentei reconhecer cada face. “Ela só pode estar aqui, onde mais estaria?”, perguntei - me um tanto quanto irritado com o sumiço de Hanna, além do mais odiava aquele ambiente.

Enquanto caminhava, a música no ambiente mudou, as luzes acompanharam a intensidade das batidas, neste momento captei a imagem de um vestido azul e logo a imagem se apagou. O vestido azul era o de Hanna, ali estava ela, a alguns metros de distancia a frente.

A distancia que nos separava era pequena, mas a resistência das pessoas não. Lenta e custosamente, furei a barreira humana, foi então que meus olhos deparam – se com a imagem mais chocante da noite. Ali estava ela, nos braços do “playboyzinho”.

Desesperadamente segui na direção de Hanna. Minha irritação era tamanha que enquanto passava, deixava para trás cotoveladas e empurrões, sem me importar com os murmúrios de repreensão. Não poderia admitir aquela situação, não olhei novamente, sabia dentro de meu íntimo que não sustentaria novamente aquela imagem.