Rolei de um lado para o outro da cama na tentativa de adormecer novamente, entretanto o sono não retornou, apenas alguns cochilos preenchiam o abismo da madrugada. Custosamente adormeci e acordei quando os primeiros raios de sol invadiam meu quarto, presumi que já poderia levantar.
Espreguicei – me demoradamente absorvida em minha cama, levantei – me preguiçosamente me arrastando até o banheiro e entrei direto com a cabeça debaixo do chuveiro, deixando a água quente relaxar meu corpo.
A temperatura do lado de fora subia gradualmente, certamente seria um dia quente com noite abafada, desci as escadas com o coração batendo acelerado de ansiedade.
- Bom dia mãe!
- Bom dia querida tudo bem? Minha mãe beijou minha bochecha e eu me sentei a sua frente na mesa do café.
- Tudo bem. – Respondi entusiasmada – Só um pouco ansiosa e agitada.
- Calma filha, vai dar tudo certo! Minha mãe falava tranquilamente como se um show fosse um “passeio no parque”.
- Eu sei mãe, mas é inevitável, essa será nossa primeira apresentação ao publico. Relembrei – a de que ainda éramos anônimos no mundo da fama.
- Acordou cedo hoje mãe? Por mais incrível que pareça, minha mãe acordava cedo para ir à academia.
- Claro filha, vou para a academia, depois para o salão fazer a unha e retocar a raiz do meu cabelo, olha como está horrível! A insatisfação de minha mãe era tamanha, parecia que ela não ia ao salão há meses.
- Mãe você retocou a raiz há duas semanas. A diferença entre minha mãe e eu era gritante, ela uma “perua”, eu uma “roqueira patricinha”, se é que isso existe.
- Eu sei querida, mas já está na hora de retocar, meu cabelo cresce como capim e não posso ficar com essa raiz horrorosa. Ela segurou uma mecha de cabelo e fez um careta de desgosto.
O cabelo de Andréia era tingido de “loiro Bambu”, denominação essa tirada de uma dessas revistas “hair style”, que eu não saberia dizer o nome.
- Laura, não é hoje aquela festa da sua amiga? A pergunta saiu carregada de animação. – Vamos para o salão agora, eles são “ma – ra – vi – lho – sos”, você vai arrasar.
- Não mãe obrigada. - Com certeza ela não saberia diferenciar um casamento de um show de rock. – Não sou a debutante, apenas uma convidada.
- De quem é a festa mesmo? Ela nunca lembrava os nomes das pessoas, apenas dos eventos.
- Flávia, irmã da Fernanda lembra? Será que ela lembraria pelo menos de Nanda?
- Hum... Fernanda é aquela sua amiga de cabelo vermelho? A resposta necessitou de alguns minutos de reflexão.
- Isso mesmo, mãe você está impossível hoje, acertou em cheio. Impossível seria não lembrar - se da minha melhor amiga de cabelo vermelho gritante.
- Vocês não se desgrudam, só poderia ser ela. Quanto a isso ela estava certíssima.
- Você precisa de uma “mega” produção para esse show, querida. A empolgação de minha mãe voltara a todo vapor.
- Claro, claro mãe, pode deixar que eu vou arrasar. Queria arrasar sim, mas pelo show e não pelo penteado.
- O papai virá este final de semana? Meu pai era o responsável de um projeto no Rio Grande do Sul, nem todos finais de semana passava conosco, se ele viesse, seria meu expectador de honra.
- Ele ligou ontem, infelizmente não poderá vir esse final de semana, pois está com muito trabalho, vai passar o final de semana no escritório da filial. Minha mãe me olhou abatida, não gostava que meu pai ficasse longe por tanto tempo.
- Ele não vai me ver tocar? Não acredito! Como minha mãe, sentia muita falta de meu pai.
- Eu sei Laura, ele gostaria muito de estar aqui, mas não pode deixar o projeto sem acompanhamento. Ela se aproximou e me abraçou calorosamente, assim como eu, sentia o coração apertado de saudades.
- Tudo bem, eu sei que ele faz tudo isso por nós! Queixar – me não mudaria nada, preferia pensar em tudo que ele fazia buscando o melhor para nossa família.
- Claro filha, você e o Vini, são tudo na vida dele. Nos olhamos afetuosamente, éramos diferentes em muitas coisas, mas o amor de nossa família era nosso ponto primordial.
- O Vini virá? Tinha certeza da resposta, mas a pontada de saudade exigia uma confirmação.
- Vai sim, ele chega antes do almoço, como de costume. Me senti mais reconfortada com a afirmação.
- Laurinha querida, agora tenho que ir, já estou atrasada para a aula de spinning. Andréia pegou a chave do carro e seguiu apresada para a garagem.
***
Estava sozinha em meu quarto, gostava da privacidade que sentia, ali poderia viajar em meus pensamentos, nas muitas coisas que ocupavam minha mente, escola, ensaios, show e aquela sensação inexplicável começava a tomar minha mente por completo quando a buzina soou.
A chegada de Vinícius dispersou meus pensamentos, mesmo estando há uma semana sem o ver, a saudade era grande, queria aproveitar ao máximo nosso tempo juntos.
Desci as escadas correndo e abri a porta da sala. Abracei Vini apertadamente enquanto ele retribuía o abraço e me levantava do chão.
- Já estava com saudades. Consegui falar quando ele me recolocou no chão.
- Eu também maninha. Sorrisos de felicidade estampavam nossas faces. – Cadê a mamãe?
- Adivinha? Desafiei – o como se fosso uma gestão difícil de descobrir.
- Hum... Na academia ou no salão. Ele Fingiu pensar profundamente antes de responder.
- Acertou. Gargalhei livremente.
Jogamos vídeo game, assistimos filme, almoçamos e tornamos a jogar vídeo game. O tempo passou absolutamente rápido, o que não foi nada ruim, primeiro porque estava com Vini, segundo porque minha ansiedade deu trégua enquanto me divertia com meu irmão. Olhei no relógio e percebi que ele passava precisamente contrario ao meu desejo, já estava na hora de me arrumar. A calça jeans preta, a camiseta roxa e o tênis preto já estavam separados em meu closet.
***
- Laura? Você está pronta? Amarrava o tênis quando eles chegaram.
- Já estou descendo. Firmei o nó do cadarço e desci.
Daniel estava no pé da escada me aguardando, Nanda estava em um canto do sofá, enquanto Vini estava na sala de estar com os livros esparramados sob a mesa, aproveitava o tempo livre para estudar.
- Oi Dan, oi Nanda, o Phil já chegou? Perguntei por ele, notando sua ausência na sala.
- Já, ele está na garagem nos aguardando para carregar os equipamentos. Foi Nanda quem respondeu com ansiedade.
- Vini, nos encontramos mais tarde na casa da Nanda, ok? Dei um beijo em meu irmão apontando para Nanda.
- Combinado. Vini me abraçou e retribuiu o beijo.
- Então vamos. Seguimos em direção a garagem com disposição para carregar os equipamentos para os veículos.
Nem mesmo dirigindo, Daniel deixava de exalar sua beleza, a calça jeans e camiseta preta, ressaltavam seu porte físico, o topete impecável completava sua imagem. Ali eu estava mais uma vez ao lado de meu admirador.
Encostei a cabeça no apoio do banco com tranqüilidade, ali ela permaneceu até a parada total do automóvel. O esportivo preto parou em frente à casa de Nanda, Philip parou logo na seqüência, os instrumentos foram levados para a varanda dos fundos, onde o espaço para o show já estava reservado.
Para todos os lados da casa, havia detalhes champanhe e rosa, as cores escolhidas por Flávia para a decoração. Em um dos lados da sala de entrada, um enorme arranjo de tulipas rosa abria a decoração dos ambientes, no outro lado, um painel em forma e tamanho natural de Flávia. Em outro canto da sala, a mesa com dois arranjos de tulipas brancas enriqueciam o bolo rosa decorado com um Flávia Schmidt no topo.
A sala ao lado estava reservada para o DJ, as paredes cobertas por tecidos pretos, os globos e luzes coloridas, e o espaço amplo faziam do ambiente uma perfeita pista de dança.
- Um, dois, testando. Testei o microfone e o som. – Estava tudo certo, pronto para o show. Sentia meu estomago remexer agitado.
- Preparada? Daniel desviou o olhar de sua guitarra. – Com frio na barriga?
- Claro, como não sentir? Era impossível não sentir como se borboletas invadissem meu estomago, mas isso fazia parte do show.
Os convidados começavam a chegar, Flávia desceu pelas escadas enfeitadas com arranjos de tulipas intercalados entre branco e rosa, seu vestido rosa tomara que caia, refletia em sua pele clara e realçava suas maças do rosto e seus olhos verdes, seu cabelo castanho arrumado em um coque desconectado, meio solto, meio preso completa a produção.
***
A noite caia densa no grande vale da cidade de Monte Castelo e o motor do velho Jeep rangeu na propriedade dos Gaillart.
- Hanna, vai demorar muito? Com impaciência chamei por minha prima de dentro do Jeep. - Desse jeito vamos chegar na hora de voltar.
- Já estou indo. Hanna saiu de dentro da casa arrumando o vestido, entrou no automóvel e terminou de abotoar a sandália. – Tá nervoso?
- Nervoso não, mas com pressa. Coloquei o cinto de segurança enquanto saia da propriedade e entrava na estrada. O quanto antes chegássemos, mais rápido voltaríamos.
- Auto lá priminho. Com determinação Hanna me fitou. – Eu só saio de lá depois dos parabéns.
- Ah então você volta sozinha! Olhei para ela impaciente.
- Sem problemas, não tenho medo do escuro. Hanna ria por dentro de minha exaltação, nada abalaria suas expectativas para a festa.
O caminho para a cidade demorou mais que o habitual, dirigir por aquela estrada durante a noite, demandou mais tempo e atenção do que o habitual.
Olhei para frente da estrada e vi as luzes da cidade aproximando - se, mais alguns minutos e estaríamos na selva de pedra.
- Onde eu entro agora Hanna? Não sabia ao certo em qual rua entrar.
- Na próxima à esquerda, n º 52. A distância diminui e a expectativa de Hanna aumentou.
A rua estava entupida de carros dos dois lados, com muito custo encontrei um lugar próximo à esquina e estacionei o Velho Jeep entre dois carros importados.
Entramos na imponente casa branca, a iluminação era atenua, no jardim um caminho formado por arranjos de tulipas levava até a entrada da casa. Hanna caminhou a minha frente e me puxou pelo caminho.
- Flávia? Ao entrar na sala, Hanna encontrou e chamou pela aniversariante.
- Hanna! Ai que bom que você veio. Flávia seguiu em nossa direção e as duas se abraçaram longa e apertadamente - Você está Linda.
- Olha quem fala você está maravilhosa! Hanna apontou para Flávia. – A debutante aqui é você.
- E quem é o seu acompanhante? Flávia falou baixinho para que eu não escutasse, não queria soar indelicada.
- Ah esse é meu primo Christian. Hanna nos apresentou um ao outro.
- Muito prazer Christian. Flávia me cumprimentou delicadamente.
- O prazer é todo meu, muito obrigada por convidar a Hanna. Agradeci com gratidão e sinceridade.
- Imaginem, vocês são meus convidados especiais. Flávia fez questão de enfatizar a palavra vocês. Tinha um carinho enorme por Hanna e sendo eu seu primo, esse carinho também se estenderia a mim.
- Obrigado mais uma vez, a propósito você é muito bonita. Estava surpreso com sua beleza e polidez.
- Vejo que você é tão cortês quanto Hanna. Ela me avaliou novamente para certificar – se de sua conclusão.
- Flávia? Uma voz desconhecida a chamou em outro canto da sala.
- Por favor, fiquem a vontade, a festa é para vocês. - Hanna, daqui a pouco eu volto para conversamos melhor. Flávia seguiu delicadamente para atender aos outros convidados.
- Se você conseguir! Hanna sinalizou para todas as pessoas que aguardavam para cumprimentar a debutante.
- Ah até os parabéns eu consigo! As duas riram sincronizadas.
O altíssimo pé direito da sala, assim com o corrimão da escada em madeira entalhada, as branquíssimas paredes e o brilho de cristal do chão me impressionaram. Como poderia uma garota ser tão educada e delicada em meio a tudo isso?
- Devo admitir que você estava certa quanto a Flávia. Falei com relutância, tendo de admitir.
- Eu não te falei? Eu a conheço muito bem. Hanna precisou erguer seu tom de voz, para se fazer audível entre os murmúrios e comentários das pessoas.
- Um ponto para você. Contabilizei um placar imaginário como se estivéssemos em um jogo.
- Um ponto? Um ponto? Hanna exclamou incrédula. – A sua conta não está errada não?
- Se ficar reclamando seu saldo cai para -2! Exclamei com a face imóvel, fingindo seriedade.
– E não se esqueça que sou seu chofer. Acrescentei antes que ela argumentasse novamente.
- Ah isso não é justo. Ela respondeu com um riso na face.
Depois de um ano - quero dizer... duas semanas - fianlmente li o capítulo!
ResponderExcluirE, wow, isso não é uma festa - é um verdadeiro Baile!
Vem cá, quando o Christian e a Laura vão se encontrar? Estou ficando impaciente já! (olha só quem fala...)
ps: Só uma dica; seria legal você colocar ''Laura'' ou ''Christian'' antes das mudanças de POV... Assim prepara o leitor para elas. Um exemplo disto é o conto ''A Filha da Exterminadora'', da Meg Cabot... Ela trabalhou também com 2 pontos de vista diferentes, e usava este recurso para explicar quando era a ''Mary'' ou o ''Adam'' narrando.