domingo, 20 de dezembro de 2009

Capitulo 4 – A Festa.

Rolei de um lado para o outro da cama na tentativa de adormecer novamente, entretanto o sono não retornou, apenas alguns cochilos preenchiam o abismo da madrugada. Custosamente adormeci e acordei quando os primeiros raios de sol invadiam meu quarto, presumi que já poderia levantar.

Espreguicei – me demoradamente absorvida em minha cama, levantei – me preguiçosamente me arrastando até o banheiro e entrei direto com a cabeça debaixo do chuveiro, deixando a água quente relaxar meu corpo.

A temperatura do lado de fora subia gradualmente, certamente seria um dia quente com noite abafada, desci as escadas com o coração batendo acelerado de ansiedade.

- Bom dia mãe!

- Bom dia querida tudo bem? Minha mãe beijou minha bochecha e eu me sentei a sua frente na mesa do café.

- Tudo bem. – Respondi entusiasmada – Só um pouco ansiosa e agitada.

- Calma filha, vai dar tudo certo! Minha mãe falava tranquilamente como se um show fosse um “passeio no parque”.

- Eu sei mãe, mas é inevitável, essa será nossa primeira apresentação ao publico. Relembrei – a de que ainda éramos anônimos no mundo da fama.

- Acordou cedo hoje mãe? Por mais incrível que pareça, minha mãe acordava cedo para ir à academia.

- Claro filha, vou para a academia, depois para o salão fazer a unha e retocar a raiz do meu cabelo, olha como está horrível! A insatisfação de minha mãe era tamanha, parecia que ela não ia ao salão há meses.

- Mãe você retocou a raiz há duas semanas. A diferença entre minha mãe e eu era gritante, ela uma “perua”, eu uma “roqueira patricinha”, se é que isso existe.

- Eu sei querida, mas já está na hora de retocar, meu cabelo cresce como capim e não posso ficar com essa raiz horrorosa. Ela segurou uma mecha de cabelo e fez um careta de desgosto.

O cabelo de Andréia era tingido de “loiro Bambu”, denominação essa tirada de uma dessas revistas “hair style”, que eu não saberia dizer o nome.

- Laura, não é hoje aquela festa da sua amiga? A pergunta saiu carregada de animação. – Vamos para o salão agora, eles são “ma – ra – vi – lho – sos”, você vai arrasar.

- Não mãe obrigada. - Com certeza ela não saberia diferenciar um casamento de um show de rock. – Não sou a debutante, apenas uma convidada.

- De quem é a festa mesmo? Ela nunca lembrava os nomes das pessoas, apenas dos eventos.

- Flávia, irmã da Fernanda lembra? Será que ela lembraria pelo menos de Nanda?

- Hum... Fernanda é aquela sua amiga de cabelo vermelho? A resposta necessitou de alguns minutos de reflexão.

- Isso mesmo, mãe você está impossível hoje, acertou em cheio. Impossível seria não lembrar - se da minha melhor amiga de cabelo vermelho gritante.

- Vocês não se desgrudam, só poderia ser ela. Quanto a isso ela estava certíssima.

- Você precisa de uma “mega” produção para esse show, querida. A empolgação de minha mãe voltara a todo vapor.

- Claro, claro mãe, pode deixar que eu vou arrasar. Queria arrasar sim, mas pelo show e não pelo penteado.
- O papai virá este final de semana? Meu pai era o responsável de um projeto no Rio Grande do Sul, nem todos finais de semana passava conosco, se ele viesse, seria meu expectador de honra.

- Ele ligou ontem, infelizmente não poderá vir esse final de semana, pois está com muito trabalho, vai passar o final de semana no escritório da filial. Minha mãe me olhou abatida, não gostava que meu pai ficasse longe por tanto tempo.

- Ele não vai me ver tocar? Não acredito! Como minha mãe, sentia muita falta de meu pai.

- Eu sei Laura, ele gostaria muito de estar aqui, mas não pode deixar o projeto sem acompanhamento. Ela se aproximou e me abraçou calorosamente, assim como eu, sentia o coração apertado de saudades.

- Tudo bem, eu sei que ele faz tudo isso por nós! Queixar – me não mudaria nada, preferia pensar em tudo que ele fazia buscando o melhor para nossa família.

- Claro filha, você e o Vini, são tudo na vida dele. Nos olhamos afetuosamente, éramos diferentes em muitas coisas, mas o amor de nossa família era nosso ponto primordial.

- O Vini virá? Tinha certeza da resposta, mas a pontada de saudade exigia uma confirmação.

- Vai sim, ele chega antes do almoço, como de costume. Me senti mais reconfortada com a afirmação.

- Laurinha querida, agora tenho que ir, já estou atrasada para a aula de spinning. Andréia pegou a chave do carro e seguiu apresada para a garagem.

***

Estava sozinha em meu quarto, gostava da privacidade que sentia, ali poderia viajar em meus pensamentos, nas muitas coisas que ocupavam minha mente, escola, ensaios, show e aquela sensação inexplicável começava a tomar minha mente por completo quando a buzina soou.

A chegada de Vinícius dispersou meus pensamentos, mesmo estando há uma semana sem o ver, a saudade era grande, queria aproveitar ao máximo nosso tempo juntos.

Desci as escadas correndo e abri a porta da sala. Abracei Vini apertadamente enquanto ele retribuía o abraço e me levantava do chão.

- Já estava com saudades. Consegui falar quando ele me recolocou no chão.

- Eu também maninha. Sorrisos de felicidade estampavam nossas faces. – Cadê a mamãe?

- Adivinha? Desafiei – o como se fosso uma gestão difícil de descobrir.

- Hum... Na academia ou no salão. Ele Fingiu pensar profundamente antes de responder.

- Acertou. Gargalhei livremente.

Jogamos vídeo game, assistimos filme, almoçamos e tornamos a jogar vídeo game. O tempo passou absolutamente rápido, o que não foi nada ruim, primeiro porque estava com Vini, segundo porque minha ansiedade deu trégua enquanto me divertia com meu irmão. Olhei no relógio e percebi que ele passava precisamente contrario ao meu desejo, já estava na hora de me arrumar. A calça jeans preta, a camiseta roxa e o tênis preto já estavam separados em meu closet.

***

- Laura? Você está pronta? Amarrava o tênis quando eles chegaram.

- Já estou descendo. Firmei o nó do cadarço e desci.

Daniel estava no pé da escada me aguardando, Nanda estava em um canto do sofá, enquanto Vini estava na sala de estar com os livros esparramados sob a mesa, aproveitava o tempo livre para estudar.

- Oi Dan, oi Nanda, o Phil já chegou? Perguntei por ele, notando sua ausência na sala.

- Já, ele está na garagem nos aguardando para carregar os equipamentos. Foi Nanda quem respondeu com ansiedade.

- Vini, nos encontramos mais tarde na casa da Nanda, ok? Dei um beijo em meu irmão apontando para Nanda.

- Combinado. Vini me abraçou e retribuiu o beijo.

- Então vamos. Seguimos em direção a garagem com disposição para carregar os equipamentos para os veículos.

Nem mesmo dirigindo, Daniel deixava de exalar sua beleza, a calça jeans e camiseta preta, ressaltavam seu porte físico, o topete impecável completava sua imagem. Ali eu estava mais uma vez ao lado de meu admirador.

Encostei a cabeça no apoio do banco com tranqüilidade, ali ela permaneceu até a parada total do automóvel. O esportivo preto parou em frente à casa de Nanda, Philip parou logo na seqüência, os instrumentos foram levados para a varanda dos fundos, onde o espaço para o show já estava reservado.

Para todos os lados da casa, havia detalhes champanhe e rosa, as cores escolhidas por Flávia para a decoração. Em um dos lados da sala de entrada, um enorme arranjo de tulipas rosa abria a decoração dos ambientes, no outro lado, um painel em forma e tamanho natural de Flávia. Em outro canto da sala, a mesa com dois arranjos de tulipas brancas enriqueciam o bolo rosa decorado com um Flávia Schmidt no topo.

A sala ao lado estava reservada para o DJ, as paredes cobertas por tecidos pretos, os globos e luzes coloridas, e o espaço amplo faziam do ambiente uma perfeita pista de dança.

- Um, dois, testando. Testei o microfone e o som. – Estava tudo certo, pronto para o show. Sentia meu estomago remexer agitado.

- Preparada? Daniel desviou o olhar de sua guitarra. – Com frio na barriga?

- Claro, como não sentir? Era impossível não sentir como se borboletas invadissem meu estomago, mas isso fazia parte do show.

Os convidados começavam a chegar, Flávia desceu pelas escadas enfeitadas com arranjos de tulipas intercalados entre branco e rosa, seu vestido rosa tomara que caia, refletia em sua pele clara e realçava suas maças do rosto e seus olhos verdes, seu cabelo castanho arrumado em um coque desconectado, meio solto, meio preso completa a produção.

***

A noite caia densa no grande vale da cidade de Monte Castelo e o motor do velho Jeep rangeu na propriedade dos Gaillart.

- Hanna, vai demorar muito? Com impaciência chamei por minha prima de dentro do Jeep. - Desse jeito vamos chegar na hora de voltar.

- Já estou indo. Hanna saiu de dentro da casa arrumando o vestido, entrou no automóvel e terminou de abotoar a sandália. – Tá nervoso?

- Nervoso não, mas com pressa. Coloquei o cinto de segurança enquanto saia da propriedade e entrava na estrada. O quanto antes chegássemos, mais rápido voltaríamos.

- Auto lá priminho. Com determinação Hanna me fitou. – Eu só saio de lá depois dos parabéns.

- Ah então você volta sozinha! Olhei para ela impaciente.

- Sem problemas, não tenho medo do escuro. Hanna ria por dentro de minha exaltação, nada abalaria suas expectativas para a festa.

O caminho para a cidade demorou mais que o habitual, dirigir por aquela estrada durante a noite, demandou mais tempo e atenção do que o habitual.

Olhei para frente da estrada e vi as luzes da cidade aproximando - se, mais alguns minutos e estaríamos na selva de pedra.

- Onde eu entro agora Hanna? Não sabia ao certo em qual rua entrar.

- Na próxima à esquerda, n º 52. A distância diminui e a expectativa de Hanna aumentou.

A rua estava entupida de carros dos dois lados, com muito custo encontrei um lugar próximo à esquina e estacionei o Velho Jeep entre dois carros importados.

Entramos na imponente casa branca, a iluminação era atenua, no jardim um caminho formado por arranjos de tulipas levava até a entrada da casa. Hanna caminhou a minha frente e me puxou pelo caminho.

- Flávia? Ao entrar na sala, Hanna encontrou e chamou pela aniversariante.

- Hanna! Ai que bom que você veio. Flávia seguiu em nossa direção e as duas se abraçaram longa e apertadamente - Você está Linda.

- Olha quem fala você está maravilhosa! Hanna apontou para Flávia. – A debutante aqui é você.

- E quem é o seu acompanhante? Flávia falou baixinho para que eu não escutasse, não queria soar indelicada.

- Ah esse é meu primo Christian. Hanna nos apresentou um ao outro.

- Muito prazer Christian. Flávia me cumprimentou delicadamente.

- O prazer é todo meu, muito obrigada por convidar a Hanna. Agradeci com gratidão e sinceridade.

- Imaginem, vocês são meus convidados especiais. Flávia fez questão de enfatizar a palavra vocês. Tinha um carinho enorme por Hanna e sendo eu seu primo, esse carinho também se estenderia a mim.

- Obrigado mais uma vez, a propósito você é muito bonita. Estava surpreso com sua beleza e polidez.

- Vejo que você é tão cortês quanto Hanna. Ela me avaliou novamente para certificar – se de sua conclusão.

- Flávia? Uma voz desconhecida a chamou em outro canto da sala.

- Por favor, fiquem a vontade, a festa é para vocês. - Hanna, daqui a pouco eu volto para conversamos melhor. Flávia seguiu delicadamente para atender aos outros convidados.

- Se você conseguir! Hanna sinalizou para todas as pessoas que aguardavam para cumprimentar a debutante.

- Ah até os parabéns eu consigo! As duas riram sincronizadas.

O altíssimo pé direito da sala, assim com o corrimão da escada em madeira entalhada, as branquíssimas paredes e o brilho de cristal do chão me impressionaram. Como poderia uma garota ser tão educada e delicada em meio a tudo isso?

- Devo admitir que você estava certa quanto a Flávia. Falei com relutância, tendo de admitir.

- Eu não te falei? Eu a conheço muito bem. Hanna precisou erguer seu tom de voz, para se fazer audível entre os murmúrios e comentários das pessoas.

- Um ponto para você. Contabilizei um placar imaginário como se estivéssemos em um jogo.

- Um ponto? Um ponto? Hanna exclamou incrédula. – A sua conta não está errada não?

- Se ficar reclamando seu saldo cai para -2! Exclamei com a face imóvel, fingindo seriedade.

– E não se esqueça que sou seu chofer. Acrescentei antes que ela argumentasse novamente.

- Ah isso não é justo. Ela respondeu com um riso na face.